A situação da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) atingiu um novo patamar de tensão institucional após sua condenação unânime pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e sua subsequente saída do país.
A parlamentar, que foi sentenciada a 10 anos de prisão em regime fechado por envolvimento direto na invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), deixou o Brasil pela fronteira com a Argentina no final de maio.
De Buenos Aires, seguiu para os Estados Unidos e, segundo informações veiculadas por jornalistas da GloboNews, planeja se deslocar em breve para a Europa. Alegando a necessidade de tratamento médico, Zambelli afirmou que irá se licenciar do mandato, embora não haja qualquer evidência de que sua ausência esteja vinculada exclusivamente a questões de saúde.
Pedido de prisão preventiva e ação da PGR
Diante desse cenário, a Procuradoria-Geral da República (PGR), por meio do procurador-geral Paulo Gonet, apresentou um pedido sigiloso ao STF para que seja decretada a prisão preventiva da deputada.
Além disso, solicitou que Zambelli seja incluída na difusão vermelha da Interpol, o que permitiria sua localização e eventual prisão em qualquer país com o qual o Brasil mantenha cooperação policial internacional.
O documento também pede a suspensão imediata de seu passaporte e a comunicação oficial às autoridades internacionais. Na justificativa, a PGR esclarece que não se trata de antecipar o cumprimento da pena, mas de uma medida cautelar para garantir a aplicação da lei penal e evitar o risco de fuga definitiva da condenada.
Como reforço à ação, o procurador ainda requereu o bloqueio e sequestro dos bens da parlamentar.
Reações do STF e avaliação da fuga
A saída de Zambelli foi vista com extrema preocupação por ministros do Supremo Tribunal Federal. Segundo apuração da GloboNews, integrantes da Corte consideraram que o gesto representou uma tentativa de fugir das consequências do julgamento e da condenação.
O fato de ela ter deixado o território nacional voluntariamente e anunciado sua permanência na Europa foi interpretado como descumprimento deliberado da sentença. Para a PGR, esse comportamento reforça a necessidade de classificá-la como foragida da Justiça brasileira.
A possibilidade de sua extradição dependerá agora de decisões políticas e diplomáticas, além da eventual concessão do pedido pela Interpol.
Histórico de investigações e outras acusações
O caso da invasão ao sistema do CNJ não é o único episódio envolvendo a deputada. Carla Zambelli responde a diversos outros processos no Supremo Tribunal Federal e na Justiça Eleitoral.
Um dos casos mais populares ocorreu em outubro de 2022, quando a parlamentar sacou uma arma e perseguiu um eleitor do presidente Lula pelas ruas de São Paulo. Pelo ocorrido, é ré em uma ação penal por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal.
O julgamento desse processo no STF foi iniciado em março de 2025 e, até o momento, seis ministros votaram pela condenação a 5 anos e 3 meses de prisão, com cassação do mandato. Contudo, o processo foi interrompido por pedido de vista do ministro Nunes Marques.
Além disso, Zambelli é investigada em dois inquéritos sigilosos conduzidos pelo STF: o inquérito das fake news, que apura a disseminação de desinformação e ataques a ministros da Corte, e o das milícias digitais, que analisa a participação da deputada em articulações golpistas após as eleições de 2022.
Já no espaço eleitoral, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) determinou sua cassação e inelegibilidade por oito anos, sob acusação de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante o pleito. A decisão ainda está em fase de recurso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Implicações políticas e diplomáticas
O caso desperta enorme repercussão política e gera forte polarização entre defensores e críticos da parlamentar. Seus apoiadores alegam perseguição ideológica e uso político do Judiciário, enquanto seus opositores veem sua conduta como uma afronta direta ao Estado de Direito.
A eventual inclusão de Zambelli na lista da Interpol pode desencadear um impasse diplomático, principalmente se ela permanecer em países que adotem uma postura hesitante em relação à extradição de figuras políticas.
A depender da postura de nações europeias ou dos Estados Unidos, o Brasil poderá ter de mobilizar recursos jurídicos e diplomáticos para viabilizar sua repatriação e cumprimento da pena.
Perspectivas para o futuro da deputada
O futuro de Carla Zambelli está, neste momento, envolto em incertezas. Se for considerada foragida oficialmente e a Interpol acatar o pedido da PGR, sua liberdade internacional ficará comprometida.
Caso seja localizada e detida no exterior, terá de enfrentar processos de extradição, o que pode levar meses ou até anos, a depender da legislação do país onde estiver. Internamente, seu mandato parlamentar está juridicamente ameaçado, tanto pelas condenações já determinadas quanto pelas investigações em curso.
A imagem pública da deputada, antes símbolo da ala bolsonarista combativa no Congresso, sofre um desgaste profundo, agravado pela percepção de tentativa de fuga e desrespeito às instituições judiciais brasileiras.