Roupas modernas, preços extremamente baixos e a promessa de estilo acessível seguem impulsionando o mercado da moda rápida. Vestidos por US$ 10, sapatos por US$ 5 e camisetas por US$ 3 são exemplos de produtos amplamente divulgados por marcas que operam em larga escala e produzem com alta rotatividade.
À medida que essas ofertas se multiplicam, cresce também a desconfiança entre consumidores atentos às condições de produção e ao impacto ambiental e social desse modelo de negócios. Esse contraste entre consumo e consciência deu origem ao que especialistas chamam de “dilema da blusinha”.
Trata-se do comportamento de quem, mesmo sabendo das violações de direitos trabalhistas, da exploração de mão de obra e do descarte acelerado de resíduos típicos da indústria da moda rápida, continua comprando. O desejo por acompanhar tendências e a facilidade de acesso a preços baixos ainda se sobrepõem a escolhas mais sustentáveis para a maioria dos consumidores.
Escolha dos brasileiros
Um levantamento conduzido pela Kantar com cerca de 23 mil entrevistados em 22 países apontou uma grande distância entre discurso e ação quando o tema é consumo sustentável. Embora 85% dos participantes globais digam desejar adotar hábitos mais responsáveis, apenas 29% efetivamente mudam seus comportamentos. No Brasil, o cenário é semelhante: 87% afirmam se preocupar com questões sociais e ambientais, mas só 35% transformam essa preocupação em atitudes concretas.
Para Rafael Farias Teixeira, da Kantar Insights Brasil, adotar uma postura mais sustentável implica tomar decisões difíceis, como evitar marcas e produtos associadas à exploração de trabalhadores ou à violação de direitos trabalhistas. No entanto, três obstáculos principais dificultam essa mudança, segundo os brasileiros ouvidos na pesquisa: o custo elevado de produtos sustentáveis (35%), a carência de informações claras sobre o tema (33%) e a incerteza sobre os reais impactos ambientais e sociais das mercadorias (20%).
Consumo sustentável
A crescente preocupação ambiental entre consumidores está ligada à percepção dos efeitos das mudanças climáticas e à maior circulação de informações. No entanto, compreender o que é realmente sustentável ainda é um desafio, em parte pela falta de critérios claros e padronizados sobre como as empresas devem divulgar seu impacto ambiental e social.
Embora o consumo sustentável ainda seja limitado por fatores como renda e acesso à informação, práticas como o reaproveitamento de materiais e o uso criativo de recursos ganham espaço. Mais da metade dos brasileiros já deixou de consumir produtos por questões socioambientais, e 58% dizem ter identificado casos de greenwashing. Entre os passos recomendados para um consumo mais consciente estão a preferência por produtos nacionais, a atenção às etiquetas e certificações e a redução no volume de compras.