As ondas de calor se tornaram uma realidade cada vez mais presente no cotidiano dos brasileiros. Episódios de temperaturas extremas, antes considerados exceções, vêm se repetindo com maior frequência e intensidade.
E a previsão para os próximos anos é preocupante: estudos científicos apontam que esses eventos tendem a se intensificar, impulsionados por alterações atmosféricas que dificultam a entrada de frentes frias no país.
O problema, no entanto, vai além do desconforto térmico. Ele acentua uma ferida já aberta na sociedade brasileira — a desigualdade. São os mais pobres que sofrem mais com os impactos do calor extremo, por não terem acesso a recursos para se protegerem adequadamente.
Brasil sofre cada vez mais com ondas de calor
Ondas de calor são fenômenos caracterizados por períodos prolongados com temperaturas muito acima do normal, em geral acompanhadas por tempo seco e céu limpo.
A ciência explica que a principal engrenagem por trás desse aquecimento intenso são os chamados bloqueios atmosféricos — sistemas que atuam como uma espécie de tampa sobre uma determinada região, impedindo que massas de ar frio avancem e que nuvens se formem.
O resultado é um acúmulo de calor na superfície, tanto em áreas urbanas quanto no mar.
Pesquisadoras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) indicam que, até 2071, esses bloqueios podem se tornar dez vezes mais potentes, criando condições para episódios de calor extremo cada vez mais severos e duradouros.
Esse aumento da temperatura já é visível em várias regiões do país.
Cidades como São Paulo, por exemplo, registram números cada vez maiores de dias com calor extremo por ano, com recordes recentes mesmo em estações tradicionalmente mais amenas, como o outono.
Ondas de calor atingem mais pobres com maior crueldade
Para além dos termômetros, as consequências atingem diretamente a saúde da população — sobretudo os idosos, crianças e pessoas com doenças crônicas, que ficam mais vulneráveis a problemas como desidratação, infartos e complicações respiratórias.
No entanto, é nas periferias e comunidades mais pobres que o impacto se revela de forma mais cruel.
Casas mal ventiladas, telhados de zinco, falta de áreas verdes e ausência de equipamentos como ventiladores ou ar-condicionado tornam o calor insuportável para milhões de brasileiros.
Em um país onde menos de 20% das residências contam com ar-condicionado, a adaptação ao novo clima se torna um desafio profundamente desigual.
Sem políticas públicas voltadas à adaptação climática, a crise das ondas de calor seguirá castigando, sobretudo, os que menos têm.