Em Belém, capital do Pará, a instalação das chamadas “árvores sustentáveis” nas avenidas de revitalização para a COP30 gerou um grande debate. A proposta, apresentada inicialmente como uma solução inovadora, rapidamente se transformou em alvo de críticas intensas.
Os locais, que passam por obras de revitalização para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), receberam estruturas metálicas com plantas e trepadeiras nativas, mas a nomenclatura inicial, “árvores artificiais” ou “eco-árvores”, não agradou a população e foi rapidamente substituída por “jardins suspensos”.
O episódio destaca a desconexão entre o governo do estado e as comunidades tradicionais da Amazônia, além de levantar questões sobre a eficácia de soluções meramente estéticas em uma região tão rica em biodiversidade.
O que são as “Árvores Sustentáveis”?
As chamadas “árvores sustentáveis” são, na verdade, estruturas metálicas feitas de vergalhões reaproveitados, com trepadeiras e plantas nativas que buscam, segundo a explicação da Secretaria de Obras Públicas do Pará (SEOP), proporcionar sombra e ventilação em locais onde o plantio de árvores convencionais seria inviável.
O projeto, inspirado por soluções urbanas de Cingapura, visa suprir a falta de espaço para o plantio tradicional devido às características da infraestrutura urbana de Belém.
O termo “árvores artificiais” foi inicialmente adotado para descrever essas estruturas, mas a repercussão negativa fez com que o governo mudasse a nomenclatura para “jardins suspensos”.
A alteração parece ter sido uma tentativa de apaziguar os ânimos, mas não evitou que as críticas crescessem, especialmente entre grupos que defendem a preservação da Floresta Amazônica e as comunidades locais.
Reação popular
A instalação das “árvores sustentáveis” suscitou indignação, principalmente entre as comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas e agricultores familiares que compõem o movimento COP do Povo.
Eles argumentam que a escolha por árvores artificiais, ou soluções de baixo impacto ecológico, não leva em consideração as necessidades reais da população e a rica biodiversidade amazônica.
Em um post nas redes sociais, o movimento expressou sua incredulidade diante da decisão: “Em plena Amazônia, o governo do estado do Pará resolveu plantar ‘árvores artificiais’ para fornecer sombra e ventilação aos participantes da COP30. Centenas de alternativas poderiam ser encontradas para tal tarefa, bastava consultar as comunidades tradicionais e os povos originários da região.”
Este protesto evidenciou um dos maiores pontos de crítica: a falta de consulta às comunidades locais antes da implementação de soluções urbanísticas que afetam diretamente a região amazônica.
Falta de soluções de longo prazo
O principal ponto de crítica se refere à ideia de que o projeto parece se preocupar mais com a estética e a rapidez do que com soluções ambientais duradouras. A substituição das “árvores artificiais” por jardins suspensos pode ser vista como um simbolismo vazio, enquanto questões estruturais e ambientais que afetam diretamente a qualidade de vida da população local são deixadas de lado.
O urbanismo sustentável, que respeita a biodiversidade e o ecossistema local, exigiria mais do que a simples instalação de trepadeiras em metal reciclado. Investir em árvores reais e no reflorestamento urbano seria uma solução muito mais eficaz para as questões de qualidade do ar, redução da poluição e melhoria da saúde urbana a longo prazo.
A verdadeira sustentabilidade vai além de ações de marketing e exige um compromisso real com a preservação da natureza e a melhoria da qualidade de vida dos povos que vivem na floresta.