A MacroBaby, considerada a maior loja de produtos infantis dos Estados Unidos, localizada em Orlando, consolidou-se como referência internacional em bonecas hiper-realistas, chmadas, aqui no Brasil de “Bebê Reborn”.
O fenômeno, que há décadas movimenta debates, voltou a ser tema das conversas de mesa de bar e dos psicólogos das redes sociais, tudo isso por causa de maternidades fictícias para bebês reborn.
Um bom exemplo é a maternidade localizada em Joinville (SC), que tem realizado até ultrassons simbólicos nas entregas dos bonecos, um detalhe que reforça a proposta de realismo, mas também reacende a polêmica nas redes sociais.
Criadas com técnicas de pintura em camadas, selagem térmica e aplicação fio a fio de cabelo e cílios, essas bonecas ultrarrealistas têm conquistado públicos diversos, de crianças a colecionadores adultos.
Em Joinville, uma dessas “maternidades” oferece enxoval completo, certidão de nascimento, identidade e até teste do pezinho como parte do pacote. Vale mencionar que tudo não passa de uma encenação artística: não se trata de uma maternidade real, tampouco há qualquer vínculo com instituições de saúde ou partos verdadeiros.
O que impulsiona o universo de bebês reborn?
Apesar de a arte reborn não ser nova, uma vez que algumas colecionadoras atuam há mais de duas décadas, o interesse pelo tema cresceu exponencialmente nos últimos meses, alavancado por influenciadores e celebridades.
Com milhares de seguidores, perfis como o da criadora de conteúdo Nane Reborns mostram rotinas “maternas” com as bonecas e acumulam visualizações nas redes.
Famosos também colaboraram para essa visibilidade. A influenciadora Nicole Bahls “adotou” duas reborn, enquanto o padre Fábio de Melo comprou uma boneca com síndrome de Down em homenagem à mãe. O movimento alcançou inclusive o cinema brasileiro, com destaque para o filme Uma Família Feliz, estrelado por Grazi Massafera.
Entretanto, essa crescente exposição também trouxe consequências inesperadas. Projetos de lei foram protocolados para restringir o uso indevido das bonecas, como tentativa de atendimento em hospitais ou uso indevido de benefícios destinados a mães com filhos reais.
Em paralelo, casos judiciais envolvendo disputas por posse de reborn, incluindo monetização de perfis no Instagram, levantaram questionamentos éticos e jurídicos.
Arte feminina ainda enfrenta resistência social
É importante mencionar que, além das controvérsias midiáticas, a arte reborn revela outro fator estrutural: a desvalorização de hobbies tradicionalmente femininos. Atividades como artesanato, colecionismo e cuidado simbólico com bonecas são frequentemente vistas com estranhamento ou banalização, apesar de exigirem técnica e sensibilidade.
Isso porque, em uma sociedade que associa valor econômico e prestígio a práticas masculinas, hobbies femininos continuam sendo marginalizados.
Outro detalhe importante é que essa desvalorização se reflete não apenas na percepção pública, mas também na distribuição de tempo e renda entre homens e mulheres. Sendo assim, o universo reborn pode ser visto também como uma forma de empoderamento artístico e emocional para muitas mulheres, e não apenas como um simulacro materno.