Um estudo conduzido por pesquisadores do Centro de Estudos Avançados da Internet (CAIS), na Alemanha, analisou como o gênero e a aparência visual de avatares digitais afetam a percepção de confiabilidade do público, especialmente no contexto dos criados por inteligência artificial que transmitem conhecimento científico.
A pesquisa, publicada no Journal of Science Communication, surgiu a partir do aumento da utilização de avatares de figuras históricas, como Nikola Tesla e Marie Curie, nas redes sociais, onde esses avatares explicam conceitos científicos e compartilham descobertas de forma interativa e descontraída.
Avatares e sua recepção do público
O estudo, que contou com a participação de quase 500 pessoas, apresentou vídeos com avatares de diferentes níveis de realismo e gêneros, variando entre os mais realistas e os mais estilizados. O objetivo dos pesquisadores era analisar como o grau de realismo visual e o gênero desses avatares influenciavam a percepção dos espectadores em relação à competência, integridade e benevolência dos personagens digitais.
Surpreendentemente, os resultados contrariaram as expectativas iniciais dos pesquisadores, que acreditavam que avatares mais cartunescos seriam percebidos como mais simpáticos e confiáveis. Em vez disso, os avatares mais realistas receberam as melhores avaliações, sendo considerados mais competentes, íntegros e benevolentes.
No entanto, os estereótipos de gênero ainda tiveram um impacto significativo. Os masculinos foram avaliados como mais competentes do que os femininos, embora não tenha sido observada diferença nas percepções de empatia e integridade entre os gêneros.
‘Vale da estranheza’
O estudo foi baseado na teoria cognitiva conhecida como “vale da estranheza”, que propõe que avatares que se assemelham muito a seres humanos, mas não são totalmente realistas, podem gerar um certo desconforto nos observadores. Jasmin Baake, principal autora da pesquisa, esclareceu que esse efeito não foi observado nas condições do experimento. No entanto, ela ressaltou que isso não exclui a possibilidade de que o “vale da estranheza” se manifeste em situações com maior grau de realismo.