Nos últimos três anos, a chegada do ChatGPT e outras ferramentas de inteligência artificial (IA) deram início a uma verdadeira revolução tecnológica. Empresas “AI first” adotam a IA não apenas como ferramenta, mas como peça central em suas estratégias, influenciando diretamente a estrutura do mercado de trabalho.
Gigantes como a IBM anunciaram a substituição de milhares de funcionários por sistemas automatizados, refletindo uma mudança radical na forma como o trabalho é concebido.
O caso Klarna
A Klarna, empresa sueca de pagamentos, tornou-se um exemplo emblemático dessa transformação. Em 2022, demitiu 700 funcionários por meio de um vídeo pré-gravado no LinkedIn, um gesto que chocou e evidenciou a frieza do processo de substituição por IA.
Logo depois, a Klarna implementou sistemas de IA para assumir as funções antes desempenhadas por esses colaboradores, celebrando a inovação.
No entanto, o que parecia uma vitória tecnológica rapidamente se mostrou uma decisão problemática: a qualidade da IA empregada foi insuficiente, levando a empresa a reconhecer que “nada será tão valioso quanto os humanos”. A empresa precisou recontratar pessoas, demonstrando que a substituição total por IA ainda enfrenta limitações práticas.
O CEO que substituiu a si mesmo com um avatar de IA
Em um passo ainda mais ousado, Sebastian Siemiatkowski, CEO e fundador da Klarna, usou um avatar digital de inteligência artificial para apresentar os resultados financeiros do primeiro trimestre de 2025. Em um vídeo de 83 segundos, o “falso Sebastian” explicou que é ele, ou melhor, sua versão IA, quem está falando.
Esse movimento simboliza uma nova fronteira da automação: não apenas os trabalhadores operacionais, mas até os líderes executivos podem ser substituídos por representações digitais. A apresentação foi transparente quanto ao uso do avatar, mas levantou debates éticos e práticos sobre autenticidade, empatia e liderança.
Entre avanços e riscos
A Klarna não esconde seu compromisso com a inteligência artificial. Em entrevistas recentes, a empresa explicou como a IA está integrada em suas operações e como isso impactou sua força de trabalho.
Ainda assim, o caso demonstra que o uso intensivo de IA requer cautela: falhas na tecnologia podem custar caro, tanto em termos financeiros quanto em reputação.
Além disso, a substituição humana por IA suscita debates sobre a qualidade do serviço, atendimento e a própria experiência do cliente, elementos que, até hoje, dependem da sensibilidade e julgamento humano.
Outros CEOs também adotam avatares de IA
A Klarna não é pioneira nessa ideia. Eric Yuan, CEO da Zoom, também usou um avatar de IA para apresentar seus resultados, aproveitando recursos da própria plataforma Zoom, como Zoom Clips e AI Companion. Ele se declarou orgulhoso por ser um dos primeiros líderes a explorar essa tecnologia em comunicação corporativa.
Esse fenômeno indica uma tendência crescente: líderes usando IA para otimizar tempo, padronizar mensagens e inovar na comunicação. Mas também levanta questões sobre a relação entre líderes e equipes, será que a liderança digitalizada consegue substituir o impacto humano?
O exemplo da Klarna é um alerta para que empresas equilibrem inovação tecnológica com respeito ao capital humano, apostando em uma integração harmônica entre IA e pessoas, em vez de uma substituição radical e imediata.