Uma recente expedição do Schmidt Ocean Institute, a bordo do navio de pesquisa Falkor, revelou um dos mais fascinantes encontros da biologia marinha moderna: a observação de um raro animal conhecido como medusa fantasma gigante, ou Stygiomedusa gigantea.
É importante mencionar que o avistamento ocorreu em janeiro de 2025, logo após o desprendimento de um iceberg de 510 km² da plataforma de gelo George VI, na Antártida, abrindo acesso a uma área submersa inexplorada por décadas.
Esse raro exemplar de água-viva, que pode ultrapassar os 10 metros de comprimento quando se considera a extensão de seus braços orais, foi registrado por meio de um veículo subaquático operado remotamente. A espécie é tão enigmática que, em mais de um século desde sua primeira descrição, em 1910, foram realizados menos de 130 avistamentos confirmados.
Animal inédito em ecossistemas extremos
A oportunidade de explorar a região recém-liberada do gelo revelou uma biodiversidade surpreendente. Além do gigantesco animal gelatinoso, os cientistas documentaram esponjas centenárias em forma de vaso, aranhas-do-mar gigantes, peixes, polvos e diversos outros organismos marinhos.
Isso porque, ao contrário do que se supunha, mesmo áreas sob espessas camadas de gelo conseguem abrigar formas de vida complexas.
É importante mencionar que a presença da medusa fantasma gigante em águas antárticas, geralmente associadas às profundezas abissais, levanta novas questões científicas.
Pesquisadores sugerem que correntes oceânicas e variações sazonais na oferta de presas podem estar influenciando sua migração para regiões mais rasas, o que reforça a urgência de investigações contínuas sobre os impactos do aquecimento global nesses habitats.
Rios escondidos sob o gelo e o futuro do continente gelado
Outro detalhe importante é que o desprendimento do iceberg e a revelação da biodiversidade marinha coincidem com descobertas alarmantes sobre a dinâmica da camada de gelo antártica.
Estudos recentes publicados na Nature Communications indicam a existência de uma rede de rios subglaciais que, impulsionados por calor geotérmico e pela pressão do gelo, alteram a estabilidade das geleiras costeiras.
Vale mencionar que essas correntes ocultas contribuem para o afinamento acelerado das plataformas de gelo, como observado na região da geleira Getz. A água doce que emerge sob alta pressão provoca turbulências que empurram água do mar mais quente contra o fundo do gelo, ampliando as taxas de derretimento.
Dessa forma, os registros da medusa gigante e as revelações sobre os rios subterrâneos convergem para um mesmo alerta: a vida marinha polar está intrinsecamente ligada às mudanças no gelo.