Durante muito tempo, a ciência se debruçou sobre uma questão delicada: os animais não humanos são capazes de sentir algo semelhante ao luto diante da morte de um ente próximo?
Especialmente entre mamíferos sociais, como os primatas, essa dúvida tem instigado pesquisadores há décadas.
Agora, evidências mais robustas começam a surgir e apontam que o comportamento de alguns animais diante da perda pode refletir uma forma primitiva de luto — ou, como alguns especialistas passaram a chamar, um “protoluto”.
Animais podem sofrer protoluto após a morte dos filhotes
Estudos recentes têm registrado com maior precisão como determinadas espécies de animais reagem à morte de seus filhotes. Em uma dessas observações, uma fêmea de macaco-prego-do-peito-amarelo foi flagrada carregando o corpo do filhote morto por horas.
A cena não é isolada: elefantes cobrem seus mortos com galhos, orcas nadam com seus filhotes sem vida, chimpanzés mantêm contato físico prolongado com os corpos.
Tais atitudes, embora variem entre espécies, apontam para uma resistência em se desligar emocionalmente de um vínculo que a morte rompeu.
Especialistas têm cautela ao usar o termo “luto”, uma vez que ele envolve componentes emocionais e cognitivos complexos.
No entanto, os comportamentos observados indicam que há uma perturbação no estado emocional dos animais — mães que perdem filhotes tendem a se isolar, a comer menos e a demonstrar sinais de estresse, como ocorre com humanos em luto.
Esses sinais são especialmente notórios em espécies com laços parentais duradouros, nas quais o vínculo entre mãe e cria é essencial para a sobrevivência da prole.
Estado de luto dos animais é diferente dos humanos
O conceito de protoluto surge, assim, como uma tentativa de nomear esse estado. A mãe reconhece que algo mudou, que o filhote não responde mais, mas mantém o cuidado e a proximidade como se ainda houvesse chance de retorno.
O vínculo de apego não se desfaz imediatamente com a morte — e, em algumas espécies, essa ligação persiste por dias ou até semanas.
Essas descobertas desafiam antigas ideias de que somente humanos teriam consciência da morte. Ainda que não se trate da mesma compreensão simbólica ou ritualizada, os dados sugerem que há uma continuidade emocional entre nós e outras espécies.
E, ao investigar essas reações, a ciência não apenas amplia o entendimento sobre o comportamento animal, mas também reflete sobre o que, afinal, significa ser capaz de sofrer uma perda.