O consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, particularmente aqueles ricos em frutose, vem sendo cada vez mais associado a uma série de problemas de saúde.
Um estudo recente realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Laval, no Canadá, destaca como a frutose, consumida em grandes quantidades por meio de alimentos ultraprocessados, pode modificar profundamente a resposta do organismo à glicose, favorecendo o surgimento de condições como diabetes tipo 2 e doenças hepáticas.
Efeito da frutose no organismo
A frutose, um açúcar encontrado naturalmente nas frutas, quando adicionada em grandes quantidades a alimentos ultraprocessados, tem um impacto significativo na saúde metabólica. De acordo com o estudo, a ingestão elevada de frutose pode alterar o funcionamento normal do intestino, modificando a maneira como ele absorve glicose.
O estudo mostrou que, após apenas três dias de alimentação com uma dieta rica em frutose, camundongos apresentaram um aumento na capacidade do intestino de absorver glicose, um efeito que ocorreu antes do desenvolvimento de qualquer sinal de intolerância à glicose.
Esse processo resulta em um aumento na absorção do açúcar no sangue, o que pode levar a problemas mais graves como o acúmulo de gordura no fígado e a desregulação da glicose.
Com o passar das semanas, os camundongos alimentados com frutose desenvolveram sinais claros de intolerância à glicose e acúmulo de gordura no fígado, o que, em longo prazo, pode evoluir para doenças ainda mais graves, como a cirrose hepática.
Isso destaca um dos principais riscos associados ao consumo excessivo de alimentos ultraprocessados: o acúmulo de gordura no fígado, condição que está intimamente ligada ao desenvolvimento da doença hepática gordurosa e à resistência à insulina.
Papel do GLP-2 na resposta intestinal
Um dos achados mais interessantes da pesquisa foi a descoberta de que o consumo excessivo de frutose eleva os níveis de GLP-2 (glucagon-like peptide-2), um hormônio que estimula o crescimento da superfície intestinal e aumenta a absorção de nutrientes, incluindo a glicose.
Esse aumento na absorção de glicose no intestino pode levar a um descontrole glicêmico precoce, muito antes do desenvolvimento de resistência à insulina.
A equipe de pesquisadores também encontrou uma solução promissora para esse problema. Ao bloquear o receptor do GLP-2 com uma droga, foi possível impedir o aumento da absorção de glicose no intestino, o que pode abrir caminho para tratamentos que ajudem a prevenir ou reverter os efeitos do consumo excessivo de frutose em alimentos ultraprocessados.
Alimentos ultraprocessados e a frutose adicionada
Uma das maiores preocupações do estudo é o fato de que a maior parte da frutose consumida nas dietas modernas vem de alimentos ultraprocessados, como refrigerantes, sucos industrializados, cereais matinais, biscoitos recheados, doces industrializados, entre outros.
Esses produtos contêm grandes quantidades de frutose adicionada, o que eleva o risco de problemas de saúde, como diabetes tipo 2 e doenças hepáticas.
Exemplos de alimentos ultraprocessados com alta quantidade de frutose:
- Refrigerantes e sucos industrializados (mesmo aqueles “100% fruta”)
- Cereais matinais e barras adoçadas
- Biscoitos recheados e doces industrializados
- Pães e bolos prontos
- Chás prontos e bebidas esportivas adoçadas
- Molhos industrializados (como ketchup e barbecue)
- Iogurtes adoçados, sobremesas lácteas e geleias
É importante ressaltar que a frutose encontrada nas frutas frescas não apresenta os mesmos riscos, pois as frutas contêm fibras, vitaminas e outros nutrientes que ajudam a regular a absorção de açúcares no organismo.
Consequências para a saúde pública
O consumo desenfreado de alimentos ultraprocessados é uma das principais causas do aumento de doenças metabólicas, como diabetes tipo 2 e doenças hepáticas. Esses alimentos, com alto teor de açúcares adicionados, como a frutose, estão diretamente ligados ao aumento da obesidade e ao comprometimento da saúde cardiovascular.
De acordo com os pesquisadores, é fundamental que a população esteja ciente dos riscos envolvidos nesse tipo de dieta e busque alternativas mais saudáveis para prevenir essas condições.
Substituir alimentos ultraprocessados por opções naturais, como frutas frescas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras, é uma das melhores formas de reduzir o risco de doenças metabólicas.
Além disso, a prática regular de exercícios físicos também é essencial para manter a saúde do organismo e prevenir o desenvolvimento de doenças crônicas.
Por isso, é fundamental que a população se conscientize sobre os impactos desses alimentos na saúde e faça escolhas alimentares mais saudáveis.
