Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) identificaram traços de agrotóxicos na água da chuva em três municípios paulistas: Campinas, Brotas e São Paulo. O estudo foi publicado na revista científica Chemosphere e repercutido pela Revista Fapesp.
A coleta das amostras ocorreu entre agosto de 2019 e setembro de 2021. Os dados mostram que Campinas registrou a maior concentração de pesticidas na chuva, com 701 microgramas por metro quadrado (µg/m²), seguida por Brotas, com 680 µg/m², e a capital paulista, com 223 µg/m².
Agrotóxicos na chuva
O estudo também identificou cinco compostos originados da degradação de pesticidas. Ao todo, foram encontrados 14 tipos diferentes de agrotóxicos, incluindo a atrazina — herbicida cuja utilização é proibida no Brasil, mas que foi detectado em todas as amostras analisadas. Entre os demais produtos identificados estão o carbendazim, um fungicida banido que apareceu em 88% das coletas, e o tebuthiuron, presente em 75% das amostras e observado pela primeira vez em água da chuva.
Outros agrotóxicos preocupantes, como o herbicida 2,4-D, relacionado a problemas de fertilidade, e o inseticida fipronil, nocivo às abelhas, também foram detectadas. Os pesquisadores observaram uma correlação entre os níveis de contaminação e a área ocupada por cultivos agrícolas em cada município. Em Campinas, aproximadamente metade do território é utilizado para atividades agrícolas; em Brotas, esse número chega a 30%; e na cidade de São Paulo, 7%.
Para a coordenadora da pesquisa, Cassiana Montagner, os resultados desafiam a ideia comum de que a água da chuva é naturalmente pura. “A crença de que a água da chuva é sempre limpa não corresponde totalmente à realidade”, afirmou em entrevista à Revista Fapesp.
Riscos e consumo
A presença de agrotóxicos na água da chuva oferece riscos tanto à saúde humana quanto ao meio ambiente, especialmente à vida aquática. Muitos pesticidas evaporam das plantações, se dispersam pelo ar e retornam ao solo com a chuva, contaminando áreas distantes. Embora alguns níveis estejam dentro dos limites permitidos, diversas substâncias não têm parâmetros de segurança definidos, o que torna preocupante a exposição contínua, mesmo em pequenas quantidades.
O problema se agrava no contexto brasileiro, que lidera o uso mundial de pesticidas, com mais de 800 mil toneladas aplicadas em 2022 — 70% a mais que os EUA, segundo a FAO. São Paulo é o segundo maior consumidor, atrás de Mato Grosso, com a soja, milho, algodão e cana-de-açúcar concentrando a maior parte desse uso.