Nas últimas semanas, o termo “incel” deixou de ser restrito a fóruns da internet e passou a circular em conversas do dia a dia, graças à minissérie Adolescência, da Netflix.
A produção, que rapidamente conquistou o topo das mais assistidas da plataforma em dezenas de países, levantou um debate urgente sobre o comportamento de jovens homens na era digital.
Pais e educadores vêm demonstrando preocupação com a influência que certos discursos online exercem sobre adolescentes, mas muitos ainda desconhecem o que, de fato, significa ser um “incel”.
Netflix trouxe à tona o termo incel, mas poucos sabem o que é
“Incel” é a abreviação de “involuntary celibate”, ou “celibatário involuntário”. O termo descreve pessoas que se consideram incapazes de ter relações sexuais ou afetivas, mesmo desejando isso, culpando as mulheres por, no entendimento deles, escolherem apenas os homens mais bonitos.
O conceito surgiu nos anos 1990 como parte de um projeto pessoal criado por uma jovem canadense chamada Alana, que queria reunir pessoas que enfrentavam dificuldades emocionais ou sociais para se relacionar.
A ideia original tinha um caráter acolhedor, voltado ao apoio mútuo de quem se sentia solitário. Com o tempo, no entanto, esse espaço de troca se transformou. Fóruns como Reddit e 4chan passaram a abrigar comunidades marcadas por ressentimento, misoginia e discursos de ódio contra mulheres.
Muitos dos que hoje se identificam como incels compartilham visões extremas sobre as mulheres, que são descritas como interesseiras, manipuladoras ou “promíscuas”. Nesses ambientes, a frustração pessoal vira combustível para teorias distorcidas sobre atração, gênero e sexualidade.
O perigo vai além da retórica. Em diversos países, membros ativos de comunidades incel já foram ligados a atentados violentos, situação que deve preocupar pais de meninos adolescentes com acesso a esse tipo de discurso de ódio contra mulheres.
Casos como o de Elliot Rodger, nos EUA, e Jake Davison, no Reino Unido, chamaram a atenção de autoridades para a relação entre esse universo e atos de violência motivados por ódio de gênero. O que antes era apenas uma queixa pessoal se transformou em ideologia perigosa.
A adolescência é uma fase de inseguranças, transformações hormonais e busca por pertencimento. É também o momento em que jovens meninos começam a formar sua visão de mundo.
Inseridos em espaços virtuais que reforçam ideias da ideologia incel, que são tóxicas e violentas, esses garotos podem desenvolver comportamentos agressivos contra mulheres, distorcidos e profundamente solitários.
Especialistas defendem que o problema tem raízes em questões de saúde mental, autoestima e ausência de referências saudáveis, e por isso é recomendado que pais acompanhem a vida virtual de seus filhos e ofereçam apoio, inclusive psicológico quando necessário.
Minissérie Adolescência faz alerta aos pais sobre a ideologia incel
Nesse contexto, Adolescência se destaca como um alerta sobre a ideologia incel e seus perigos para os jovens meninos. A minissérie conta a história de Jamie Miller, um garoto de 13 anos acusado de matar uma colega.
A trama se desenrola a partir da investigação do crime e expõe como discursos misóginos, familiares ausentes e influências digitais podem moldar de forma perigosa o comportamento de um adolescente.
Mais do que um drama policial, a série é um chamado à reflexão. Mostra como a radicalização pode começar de forma sutil — em vídeos no YouTube, fóruns e memes — e crescer em silêncio dentro de quartos fechados.
Para pais e responsáveis, a lição é clara: é essencial acompanhar de perto a rotina digital dos filhos, manter canais abertos de diálogo e prestar atenção aos sinais de isolamento ou frustração.
A cultura incel, antes invisível para o grande público, agora ganhou holofotes. E talvez esse seja o primeiro passo para enfrentá-la e extermina-la antes que mais jovens garotas e mulheres percam suas vidas.