A Beija-Flor de Nilópolis resgatou um dos momentos mais emblemáticos da história do Carnaval carioca ao trazer de volta a imagem do “Cristo Mendigo” para a Marquês de Sapucaí.
A alegoria, que se tornou símbolo da resistência artística, foi censurada em 1989 após uma ação da Igreja Católica, mas retornou na noite da última segunda-feira (3), emocionando o público e relembrando a genialidade do carnavalesco Joãosinho Trinta.
A polêmica de 1989 da Beija-flor
O desfile da Beija-Flor em 1989, com o enredo “Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”, marcou o Carnaval ao apresentar uma crítica social impactante. O carro alegórico principal trazia uma réplica do Cristo Redentor caracterizado como um morador de rua, em meio a um cenário de lixo e marginalização.
Isso porque a proposta do enredo era retratar o abandono social e a desigualdade, temas recorrentes no trabalho de Joãosinho Trinta. No entanto, a Igreja Católica considerou a imagem ofensiva e conseguiu uma decisão judicial que proibiu sua exibição.
Como resposta, o carnavalesco cobriu a estátua com um saco plástico e adicionou a placa com os dizeres: “Mesmo proibido, olhai por nós”. A solução criativa transformou a censura em um dos momentos mais memoráveis do Carnaval brasileiro.
O retorno da imagem
Trinta e seis anos depois, a Beija-Flor decidiu reviver essa história. O desfile de 2025 foi uma homenagem a Laíla, diretor de Carnaval da escola, falecido em 2021, e trouxe novamente a figura do Cristo Mendigo para a avenida.
Desta vez, a alegoria veio acompanhada por uma ala de pessoas em situação de rua e uma nova mensagem na placa: “Do Orun (céu) olhai por nós”.
Vale mencionar que a Beija-Flor classificou essa releitura como o último ato de sua homenagem ao desfile de 1989. A escola de samba utilizou suas redes sociais para destacar que essa era uma forma de honrar a memória de seus grandes nomes e reforçar a importância da liberdade artística no Carnaval.
Outro detalhe importante é que o desfile deste ano também resgatou referências a outros baluartes do samba, como Rosa Magalhães e o próprio Joãosinho Trinta. A emoção tomou conta do público, reafirmando o impacto histórico da Beija-Flor na Sapucaí.
Com isso, a escola de Nilópolis conseguiu, mais uma vez, transformar a censura em arte e relembrar que o Carnaval é, antes de tudo, um espaço de expressão cultural e resistência.