Um estudo publicado em 2023 trouxe uma hipótese intrigante: a humanidade teria passado por um evento extremo de quase extinção há aproximadamente 900 mil anos.
De acordo com os pesquisadores, a população ancestral de Homo sapiens teria sido reduzida drasticamente, chegando a apenas 1.280 indivíduos no planeta Terra.
Essa revelação, publicada na Revista Science, baseada em análises genéticas, gerou grande repercussão, mas também recebeu questionamentos da comunidade científica.
É verdade que a humanidade estava quase extinta há 900 mil anos?
A pesquisa utilizou um modelo computacional inovador chamado FitCoal para estudar o material genético de milhares de pessoas atualmente vivas.
Os cientistas analisaram as mutações acumuladas no DNA ao longo do tempo e detectaram indícios de um colapso populacional significativo entre os ancestrais humanos na África.
Então, o estudo sugeriu que quase 99% dessa população teria desaparecido nesse período remoto, reduzindo a humanidade a quase zero.
Contudo, a metodologia do estudo foi alvo de críticas por parte de outros especialistas.
Um dos principais pontos levantados foi o fato de que o suposto “gargalo populacional” não apareceu nos genomas de populações não africanas.
Aylwyn Scally, geneticista da Universidade de Cambridge, destacou que os dados genéticos disponíveis dificilmente podem oferecer informações precisas sobre períodos tão antigos, sugerindo que as conclusões podem ser um equívoco estatístico.
Outros cientistas também questionaram a confiabilidade do FitCoal. Métodos alternativos de análise genética, como o mushi e o MSMC, são amplamente utilizados para estimar o tamanho das populações ao longo da história, mas todos eles dependem de premissas simplificadas sobre a taxa de mutação e outras variáveis.
Como explicou Scally, reconstruir eventos populacionais tão distantes é um desafio complexo, e pequenos erros metodológicos podem levar a interpretações equivocadas sobre a humanidade.
Novo estudo fala sobre colapso da humanidade
Além disso, um novo estudo conduzido por pesquisadores da Universidade da Califórnia, publicado na revista Genetics, sugeriu que a detecção do colapso populacional pelo FitCoal pode ser um artefato estatístico, ou seja, um erro no próprio modelo.
Segundo esses pesquisadores, se a quase extinção da humanidade tivesse ocorrido de fato, sinais semelhantes deveriam ser observados no DNA de todas as populações humanas atuais, o que não aconteceu.
Diante dessas controvérsias, ainda não há consenso sobre a hipótese da quase extinção da humanidade há 900 mil anos.
Enquanto novas pesquisas buscam esclarecer a questão, o episódio destaca os desafios da paleogenética e a importância de múltiplos métodos para reconstruir o passado da nossa espécie.