Nos últimos anos, o consumo de bebidas energéticas tem crescido significativamente no Brasil, um reflexo de uma sociedade cada vez mais acelerada e em busca de energia e disposição.
Segundo um levantamento realizado pela Scanntech, entre janeiro e agosto de 2024, o volume de vendas de energéticos no país aumentou 15% em comparação ao mesmo período de 2023. Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas (Abir) mostram que, entre 2010 e 2020, o consumo da bebida passou de 300 ml para 710 ml por pessoa, indicando uma clara tendência de aumento.
Apesar de serem consumidos principalmente para dar energia, aumentar o estado de alerta e combater a fadiga, os energéticos podem oferecer sérios riscos à saúde quando ingeridos em excesso. Especialistas no assunto alertam para os efeitos negativos que o abuso dessa bebida pode causar, particularmente no sistema cardiovascular, com consequências que podem ir de taquicardia a arritmias graves.
Composição dos energéticos e seus efeitos no corpo
Os energéticos possuem uma composição que varia de acordo com a marca e fórmula específica, mas, de maneira geral, contêm ingredientes como cafeína, taurina, carboidratos, vitaminas e até glutamina.
Algumas versões também incluem guaraná, conhecido por suas propriedades estimulantes. Segundo Matheus Rodrigues Silva, enfermeiro e docente na área de saúde do Senac, essas substâncias agem rapidamente no organismo, promovendo um aumento na energia, no estado de alerta e reduzindo o cansaço e a sonolência. “A absorção dos componentes ocorre poucos minutos após o consumo, o que proporciona o efeito desejado de aumento de disposição e foco.”
Quando o consumo é seguro?
De acordo com Matheus, quando consumido de forma moderada, o energético não oferece riscos para a saúde. Ele explica que uma lata de 250 ml de energético contém, em média, de 80 mg a 90 mg de cafeína, sendo que a ingestão recomendada para adultos é de até 400 mg de cafeína por dia.
No entanto, é importante destacar que a cafeína também está presente em outros alimentos e bebidas, como chocolates, refrigerantes e chás, o que pode aumentar a ingestão total dessa substância de forma inadvertida.
Perigos do consumo excessivo
O consumo excessivo de energéticos, especialmente quando frequente, pode ter efeitos adversos significativos no organismo, sendo o sistema cardiovascular o mais afetado. O especialista alerta para sintomas como taquicardia (batimentos cardíacos acelerados), palpitações e arritmia. Em casos mais graves, esses problemas podem se agravar e levar a complicações maiores, como desmaios ou até eventos cardíacos.
Além disso, a combinação de bebidas energéticas com álcool é particularmente arriscada. O efeito estimulante da cafeína pode mascarar os sinais de embriaguez, levando a pessoa a subestimar o quanto está alcoolizada. Isso aumenta o risco de acidentes, pois o indivíduo pode não perceber que não está em condições de dirigir ou realizar atividades que exigem coordenação motora e atenção.
Grupos de risco
Matheus destaca que certos grupos devem evitar o consumo de bebidas energéticas devido aos seus potenciais efeitos adversos. Entre eles, estão:
- Menores de 18 anos: O sistema nervoso ainda está em desenvolvimento e a estimulação excessiva pode prejudicar esse processo.
- Pessoas com problemas cardíacos ou respiratórios: O impacto das substâncias presentes nos energéticos pode agravar condições preexistentes.
- Indivíduos com transtornos de ansiedade ou síndrome do pânico: A cafeína e outros estimulantes podem piorar esses quadros, aumentando a sensação de ansiedade.
- Gestantes e diabéticos: Esses grupos podem ser mais vulneráveis aos efeitos da cafeína e aos altos níveis de açúcar presentes na bebida.
- Pessoas com alergia a componentes da fórmula: Algumas pessoas podem ser sensíveis a ingredientes como taurina, guaraná ou até a própria cafeína.
Além dos riscos associados à saúde cardiovascular e ao sistema nervoso, o consumo de energéticos também pode interferir na eficácia de medicamentos. A cafeína pode reduzir a absorção de certos antibióticos e afetar a metabolização de antidepressivos e antipsicóticos. Além disso, ela pode potencializar o efeito de remédios como a dipirona, o que pode ser perigoso, causando reações inesperadas no organismo.
A Fecomércio MG, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais, tem um papel importante na educação e conscientização sobre o consumo de substâncias como os energéticos.
A entidade, que representa mais de 750 mil empresas no estado, juntamente com o Senac, oferece cursos e programas voltados para a formação de profissionais da saúde e para a disseminação de informações sobre o uso responsável de produtos consumidos diariamente.
É fundamental que consumidores se conscientizem dos potenciais perigos e adotem hábitos mais saudáveis e equilibrados em relação ao uso dessas bebidas.