A recente assinatura do memorando por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, pode mudar de forma substancial o comércio internacional.
Com a determinação de promover o que chama de “reciprocidade” nas tarifas comerciais, Trump busca reagir contra países que impõem tarifas sobre produtos americanos, principalmente quando essas taxas são mais altas do que as aplicadas pelas autoridades dos EUA sobre os mesmos produtos estrangeiros.
O movimento de Trump representa uma mudança em relação à política comercial dos EUA nas últimas décadas. Durante muitos anos, o governo norte-americano defendeu uma abordagem mais liberal no comércio internacional, com a redução de tarifas para promover o fluxo livre de bens e serviços.
Contudo, Trump deseja rever essa estratégia, alegando que a reciprocidade tarifária é essencial para equilibrar as condições de mercado e proteger os empregos dentro dos EUA. Ele tem se concentrado principalmente na redução do déficit comercial, particularmente em países que ele considera adversários comerciais, como a China.
Como funciona a medida
A proposta de Trump é relativamente simples em conceito, mas complexa em sua execução. Se um país impuser uma tarifa X sobre produtos americanos, os EUA aplicariam uma tarifa equivalente sobre os produtos importados desse país.
No entanto, o governo norte-americano não se limita apenas a tarifas, ele também pretende considerar outros fatores como subsídios, taxas de câmbio e políticas fiscais consideradas injustas. A implementação dessa estratégia exigirá um sistema robusto para avaliar, de forma justa, todas as práticas comerciais de outros países e como elas impactam a competitividade das exportações americanas.
Entre os países incluídos no memorando de Trump, o Brasil é citado devido à tarifa de 18% sobre o etanol americano, enquanto a tarifa dos EUA sobre o etanol brasileiro é de apenas 2,5%. Além disso, os produtos brasileiros, como carne e laticínios, também estão sob escrutínio devido à disparidade nas taxas tarifárias. Isso coloca o Brasil em uma posição vulnerável, pois poderá enfrentar tarifas mais altas, ou que afetaria diretamente as exportações brasileiras para os Estados Unidos.
Possíveis implicações econômicas
O maior risco dessa nova abordagem é a possibilidade de uma guerra comercial entre os países. Caso os Estados Unidos implementem tarifas de reciprocidade, outros países podem retaliar, aplicando suas próprias tarifas e afetando a competitividade das empresas americanas no exterior.
Os economistas alertam que uma escalada nas tarifas pode resultar em um aumento nos preços para os consumidores, com impacto direto na inflação global. Além disso, uma guerra comercial prolongada pode gerar distúrbios nas cadeias de suprimentos globais, prejudicando empresas e consumidores em várias partes do mundo.
Reação do Brasil e outras nações
O governo brasileiro já se preparou para a possibilidade de os Estados Unidos tomarem medidas contra o etanol brasileiro. A Embaixada do Brasil em Washington trabalha ativamente para estabelecer um diálogo com as autoridades americanas a fim de negociar uma solução favorável ao comércio bilateral.
O Brasil vê as tarifas de Trump como uma forma de pressão política, talvez utilizada para obter concessões em outras áreas, como segurança ou comércio de outros produtos.
Além dos aspectos econômicos, essa nova postura de Trump também abre um campo de negociação em outras áreas de interesse global, como a guerra na Ucrânia e as questões políticas relacionadas.
O presidente dos EUA já expressou a sua disposição de reintegrar a Rússia ao G7, desafiando as decisões de anos anteriores e sinalizando um possível novo alinhamento geopolítico. Este movimento reflete uma tentativa de Trump de redefinir as alianças internacionais, ao mesmo tempo que busca reverter políticas comerciais que consideram pertinentes aos interesses americanos.
A guerra comercial global, impulsionada por essas políticas de “reciprocidade”, será uma batalha estratégica, onde os aliados comerciais dos EUA terão que se adaptar rapidamente a uma nova ordem econômica, marcada pela incerteza e pela imprevisibilidade.