Nunca houve tantos diagnósticos de transtornos neurológicos infantis, afirma Luciana Garbin, editora executiva no ‘Estadão’ e professora na FAAP. Entre 2022 e 2023, cerca de 200 mil crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) foram matriculados em salas de aula comuns no Brasil, um aumento de 50% segundo o Censo de Educação Básica.
No caso do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), calcula-se que atinja de 5% a 8% da população mundial. Para Garbin, além do impacto nas famílias, esse cenário representa um desafio crescente para as escolas, que precisam lidar com salas cada vez mais diversas e complexas.
Aumentos dos diagnósticos
Garbin ressalta que, embora o conhecimento sobre crianças atípicas tenha avançado, ainda existem falhas na preparação de famílias e escolas para implementar as adaptações necessárias. A neuropsicopedagoga Ingrid Garrido aponta que muitos diagnósticos são imprecisos, o que pode dificultar o acesso a tratamentos adequados. Além disso, a sobreposição de transtornos e seus sintomas semelhantes pode levar a interpretações equivocadas por profissionais sem a devida especialização.
A autora também questiona se o aumento no número de diagnósticos reflete um excesso ou apenas uma maior precisão na identificação dos casos. Garrido destaca que, no passado, muitas crianças atípicas não eram reconhecidas, mas o avanço da especialização tem permitido diagnósticos mais assertivos.
Outro ponto enfatizado por Garbin é a necessidade de integração entre alunos típicos e atípicos, já que a falta de conscientização pode resultar em bullying e exclusão. Para Garrido, a desinformação sobre transtornos neurológicos entre os próprios estudantes contribui para situações de discriminação. Incluir atividades de sensibilização no ambiente escolar pode tornar a convivência mais inclusiva e acolhedora.
Embate família e escola
A resistência de algumas famílias em aceitar o diagnóstico representa um obstáculo que pode impactar o suporte oferecido pela escola. Além disso, muitas instituições de ensino deixam de implementar as adaptações necessárias, apesar da garantia legal de acompanhamento em sala de aula, que nem sempre é realizado por profissionais especializados.
Garbin também chama atenção para o conflito entre escolas e famílias: enquanto os pais reivindicam ajustes para atender às necessidades das crianças, os professores enfrentam desafios diários e carecem de capacitação adequada. A autora alerta que, sem o preparo necessário, os laudos podem acabar rotulando os alunos, em vez de servir como ferramenta para seu desenvolvimento.