A possível fusão entre as companhias aéreas Azul e Gol, que poderia concentrar até 60% do mercado de aviação civil no Brasil, gera preocupações entre especialistas consultados pelo G1, que alertam para o risco de um aumento expressivo no valor das passagens aéreas.
O professor Alessandro Oliveira, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), destaca que a diminuição da concorrência geralmente resulta no aumento das tarifas, uma avaliação compartilhada pelo economista José Roberto Afonso, do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP).
Aumento das passagens
Afonso destaca que, após a fusão, Azul e Gol teriam a possibilidade de aumentar os preços das passagens sem a necessidade de expandir a infraestrutura, mantendo a operação com os mesmos aviões e assentos, embora continuem enfrentando elevados custos financeiros por suas dívidas em dólar.
Cleveland Prates, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), observa que a Latam, maior concorrente, pode optar por elevar suas tarifas para acompanhar o mercado, em um processo chamado de “coordenação tácita”, no qual as empresas ajustam suas estratégias de maneira implícita, sem comunicação direta.
Especialistas também apontam que a fusão pode representar um obstáculo para a entrada de novas empresas no mercado brasileiro, em razão da concentração de slots nos aeroportos e do aumento da escala operacional das companhias envolvidas.
Fusão Azul e Gol
Para que a fusão entre Azul e Gol avance, será necessária aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que avaliarão os impactos no mercado. Segundo Prates, ex-conselheiro do Cade, o órgão pode impor condições como limitar slots em aeroportos ou exigir a venda de programas de fidelidade, o que pode reduzir a atratividade do acordo.
O governo, porém, vê a fusão como uma oportunidade para fortalecer o setor aéreo e proteger empregos. O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, garantiu que o governo monitorará os preços das passagens para evitar aumentos, embora reconheça que não tem controle direto sobre as tarifas, já que o mercado é livre.
Azul e Gol afirmam que as negociações estão em fase inicial e destacam que a união pode ampliar a conectividade entre cidades e reduzir custos operacionais, com potencial para baixar os preços aos consumidores. O CEO da Azul, John Rodgerson, minimizou o impacto da fusão na entrada de novos competidores, afirmando que apenas o aeroporto de Congonhas enfrenta limitações de capacidade.