Expandir globalmente é um sonho para qualquer grande empresa, mas o Brasil, com sua complexidade única, é um terreno traiçoeiro para gigantes do varejo mundial. Forever 21, Walmart, Fnac e Lush são exemplos claros de que sucesso internacional não é garantia de prosperidade por aqui.
Diferentemente de países com mercados mais homogêneos e infraestruturas robustas, o Brasil tem uma combinação explosiva de tributos altos, logística deficiente e burocracia pesada. Essa tríade pesa muito na conta final das empresas, tornando modelos de negócios que dependem de preço baixo quase inviáveis.
No caso da Forever 21, que na matriz americana reinava com preços populares e estoque rotativo, essa realidade transformou sua estratégia em algo praticamente impossível de executar. A questão não foi falta de vontade, mas a complexidade de se operar num país onde cada etapa encarece a mercadoria.
Falha em interpretar a cultura e o comportamento do consumidor brasileiro
As marcas estrangeiras frequentemente subestimam o quanto o consumidor brasileiro é particular, não só no gosto, mas na forma como consome.
O Walmart, por exemplo, insistiu numa abordagem “preço baixo sempre”, ignorando a predileção do brasileiro por promoções temporárias e a percepção de valor em descontos específicos.
Além disso, o brasileiro valoriza o atendimento personalizado e a experiência de compra, algo que muitas dessas redes globais tentaram padronizar ao extremo, perdendo a conexão com o público local.
A Fnac, mesmo sendo conceitualmente admirada, não conseguiu traduzir esse prestígio em volume de vendas porque não entendeu o ritmo e a expectativa do consumidor brasileiro.
O peso da concorrência digital e a revolução do varejo
Quando essas gigantes chegaram, a transformação digital já vinha ganhando força no Brasil, especialmente com a chegada de plataformas asiáticas como Shopee e Shein. Elas dominaram a logística digital, ofereceram preços agressivos e criaram uma experiência online que virou referência para o público jovem.
Forever 21 foi vítima desse choque, pois não conseguiu ajustar seu modelo físico tradicional para competir com a agilidade e o preço dessas plataformas. O varejo brasileiro entrou em um ritmo frenético de digitalização que muitas marcas estrangeiras demoraram para acompanhar.
Cenário econômico e político
O momento econômico turbulento que o Brasil viveu na última década, marcado por recessões e instabilidade política, não perdoou marcas com margens já apertadas e modelos pouco adaptados.
Mesmo empresas com potencial e produtos atraentes como a Lush foram forçadas a abandonar o país devido à combinação de alta carga tributária, custos operacionais e ambiente de negócios incerto.
As crises globais internas das matrizes, como o pedido de recuperação judicial da Forever 21, só aceleraram o processo, com a matriz optando por focar em mercados mais lucrativos e previsíveis.
Fragmentação
Outro ponto que contribuiu para o fracasso do Walmart no Brasil foi a diversidade confusa de formatos e bandeiras herdadas de aquisições. Essa fragmentação impediu a criação de uma identidade clara e dificultou a gestão eficiente.
Somado a isso, a burocracia interna do gigante americano travou decisões rápidas, um requisito fundamental num mercado dinâmico como o brasileiro. Essa falta de agilidade aliada a uma estratégia pouco coesa comprometeu sua capacidade de reagir a mudanças e ajustar o negócio conforme o consumidor.
O fracasso de gigantes como Forever 21 e Walmart é um convite para que as marcas enxerguem o Brasil não como um mercado qualquer, mas como um ecossistema único, onde ganhar exige humildade para aprender e coragem para se reinventar.