O chamado efeito sanfona ou ioiô, que consiste em recuperar o peso perdido após uma dieta, é um fenômeno frequente entre quem busca emagrecer. Pesquisas recentes mostram que esse processo vai além da simples retomada de antigos hábitos alimentares: o organismo pode estar biologicamente programado para recuperar o peso anterior devido a alterações profundas em níveis celulares e hormonais.
Um estudo publicado na revista Nature, liderado por Ferdinand von Meyenn, do Grupo de Nutrição e Epigenética Metabólica da Escola Politécnica de Zurique, revelou que o tecido adiposo carrega uma espécie de “memória” da obesidade, o que contribui para essa predisposição biológica.
Segredos por trás do efeito sanfona
Mesmo depois de perder muito peso, especialmente após cirurgia bariátrica, as células de gordura continuam “lembrando” da obesidade por meio de mudanças na forma como seu DNA é interpretado. Essas alterações influenciam o metabolismo, fazendo com que o corpo favoreça o acúmulo de gordura novamente.
A análise com 38 pessoas, incluindo quem tinha obesidade e quem não tinha, junto com testes em camundongos, mostrou que essas mudanças celulares permanecem ativas mesmo após a perda de peso. Isso explica por que o corpo parece “lutar” para voltar ao peso antigo.
Além disso, dietas muito restritivas ou desequilibradas podem fazer o organismo reagir quando a alimentação normal é retomada, aumentando o apetite e o armazenamento de gordura. As células de gordura diminuem de tamanho durante o emagrecimento, mas não desaparecem, e o corpo tenta restaurá-las.
Também ocorrem mudanças hormonais: os níveis de hormônios que dão sensação de saciedade, como leptina e insulina, caem, enquanto os que aumentam o apetite, como a grelina, sobem. Essas alterações afetam áreas do cérebro que controlam a fome, dificultando manter o peso perdido. Por fim, fatores emocionais e comportamentais, como sentir que se merece uma “recompensa” após emagrecer, podem colaborar para o efeito sanfona.
Como combater essa tendência?
O ciclo repetido do efeito sanfona traz riscos à saúde, como aumento da gordura corporal, perda de massa muscular, desequilíbrios hormonais e maior chance de diabetes, hipertensão e problemas cardíacos. Estudos mostram que 30 a 35% do peso perdido pode ser recuperado em um ano, e metade das pessoas retorna ao peso inicial em cinco anos.
Por isso, a perda de peso deve ser gradual e supervisionada por profissionais, com foco em alimentação equilibrada, evitando dietas radicais e adotando mudanças duradouras. Atividade física regular, alimentação em horários adequados e atenção à saciedade são essenciais para evitar o efeito sanfona e manter a saúde a longo prazo.