O inglês é frequentemente considerado a língua mais falada do mundo. Essa impressão se sustenta por sua presença esmagadora na cultura popular, nos negócios internacionais, nas pesquisas acadêmicas e na comunicação digital.
No entanto, ao analisarmos os dados de forma mais precisa, percebemos que essa posição de destaque em relação, principalmente, ao número de falantes totais, ou seja, somando aqueles que falam o inglês como língua materna (L1) e aqueles que o aprenderam como segunda língua (L2).
Quando restringimos a análise apenas aos falantes nativos, o cenário se transforma drasticamente. Em 2025, o inglês ocupa apenas o terceiro lugar entre as línguas com mais falantes nativos no planeta. A liderança pertence, com larga vantagem, ao mandarim chinês.
A força do mandarim chinês
O mandarim chinês, também conhecido como Putonghua, é a variedade oficial da macrolíngua chinesa e é falado como língua materna por cerca de 940 milhões de pessoas. Esse número impressionante é resultado direto da enorme população da China, mas não apenas disso.
O governo chinês, desde meados do século XX, promove intensamente a padronização do mandarim como idioma nacional, sendo obrigatório nas escolas, nos meios de comunicação e nas repartições públicas.
Isso consolidou a sua posição como a língua nativa dominante não apenas na China continental, mas também em Taiwan e em diversas comunidades chinesas espalhadas pelo mundo.
Embora o mandarim não tenha o mesmo grau de internacionalização que o inglês, sua força como língua nativa é incomparável e, por si só, já redefine o entendimento global sobre hierarquias linguísticas.
O inglês e seu papel global
O inglês, com aproximadamente 380 milhões de falantes nativos, está atrás do espanhol e do mandarim nesse aspecto. No entanto, seu papel no cenário global permanece inegável. O número de falantes totais de inglês ultrapassa a marca de 1,5 bilhão, sendo mais de 1,1 bilhão desses falantes de segunda língua.
Esse fenômeno é resultado de diversos fatores históricos, políticos e culturais. A expansão do Império Britânico durante os séculos XVIII e XIX semeou o idioma em todas as regiões do globo, enquanto o protagonismo dos Estados Unidos no século XX consolidou sua relevância como língua dos negócios, da ciência e da tecnologia.
Atualmente, o inglês funciona como uma verdadeira “língua franca”, utilizada para a comunicação entre pessoas de diferentes países que não compartilham um idioma materno em comum.
A importância da distinção entre L1 e L2
Para entender completamente o impacto e o alcance de uma língua, é fundamental distinguir entre falantes nativos (L1) e não nativos (L2). Um falante nativo é aquele que aprendeu a língua desde a infância, no seio familiar ou comunitário.
Já o falante de L2 adquire o idioma posteriormente, geralmente por meio da educação formal ou necessidade profissional. A relevância dessa distinção se manifesta especialmente em contextos de política linguística, educação e até mercado de trabalho.
Enquanto o número de falantes nativos indica a profundidade cultural e geográfica de um idioma, o total de falantes reflete sua capacidade de servir como ferramenta de comunicação global.
O espanhol, o hindi e outras línguas de destaque
Logo atrás do mandarim, aparece o espanhol com cerca de 486 milhões de falantes nativos. Sua força vem da vasta extensão geográfica em que é falado como língua oficial: quase toda a América Latina, além da Espanha e partes dos Estados Unidos.
O hindi, com aproximadamente 345 milhões de falantes nativos, representa a principal língua da Índia, país com enorme peso demográfico e cultural. Outras línguas, como o árabe, o bengali e o português, também ocupam posições de destaque em número de falantes nativos e desempenham papéis importantes em suas respectivas regiões.
No entanto, nenhuma delas se aproxima do mandarim no aspecto puramente numérico, nem do inglês em termos de alcance global como L2.
Os fatores que moldam a distribuição das línguas
O panorama linguístico mundial não é estático. Ele é moldado por uma série de forças demográficas, políticas, econômicas e culturais. Países com grandes populações tendem, naturalmente, a gerar mais falantes nativos de suas línguas oficiais.
Políticas de incentivo ao uso de um idioma, como as promovidas na China, na Índia e em países árabes, ajudam a consolidar sua presença entre as novas gerações. O poder econômico também influencia a escolha das línguas que as pessoas decidem aprender como segunda língua.
Hoje, o inglês é a língua dominante no comércio internacional, na produção científica e na internet. Esse fator garante sua disseminação contínua como L2, mesmo que seu número de falantes nativos permaneça relativamente estável.
Além disso, migrações, urbanização, globalização e novas tecnologias também contribuem para acelerar, ou reduzir, o crescimento de determinadas línguas.
Um novo olhar sobre o poder linguístico
A revelação de que o inglês não é a língua com mais falantes nativos pode parecer surpreendente à primeira vista, mas, na verdade, apenas reforça a complexidade do cenário linguístico global.
Uma língua não é “mais importante” apenas porque tem mais falantes nativos. A influência de um idioma vai muito além do seu número de nascimentos associados: ela está ligada à sua capacidade de gerar pontes entre culturas, de atuar como instrumento de troca de ideias e de representar um grupo humano diverso e conectado.
O mandarim é hoje a língua materna mais falada do mundo, refletindo o peso populacional e político da China. O inglês, por outro lado, reina como idioma internacional, superando fronteiras e atuando como elo entre nações.