Era 14 de maio de 1960 quando a escritora cearense Rachel de Queiroz finalizou sua coluna na revista Cruzeiro com apenas duas palavras em letras maiúsculas: “EU VI”.
E o que ela viu não foi uma estrela cadente ou um fenômeno atmosférico comum. Ela se referia a uma luz alaranjada, envolta em um halo nevoento, que cruzava o céu de Quixadá com movimentos inusitados.
O que torna esse relato tão marcante não é apenas a figura célebre por trás dele, mas o fato de que dezenas de pessoas estavam ali, ao lado de Rachel, observando o mesmo espetáculo misterioso no céu do sertão. O ceticismo da autora, somado ao seu testemunho direto, deu credibilidade ao que parecia ser só mais uma história fantástica.
O enigmático Caso Barroso
Treze anos depois, Quixadá voltou ao centro das atenções com um caso ainda mais desconcertante: o do agricultor Francisco Barroso. Em uma madrugada de 1973, Barroso teria sido atingido por um feixe de luz vindo de uma nave enquanto andava a cavalo.
Encontrado desacordado por um vaqueiro, ele retornou com sintomas que pareciam sair de um roteiro de ficção científica: regressão mental, medo de luzes e uma pele que, misteriosamente, rejuvenescia com o passar do tempo.
O caso atraiu médicos, cientistas e curiosos de vários países, tornando-se um dos registros ufológicos mais emblemáticos do Brasil. Barroso faleceu com o comportamento e aparência de uma criança, e até hoje ninguém conseguiu explicar o que, de fato, aconteceu naquela estrada.
Paisagem fora do comum e portais de pedra
Além dos relatos sobrenaturais, a geografia de Quixadá parece colaborar com o clima de mistério. A cidade é cercada por formações rochosas monumentais que parecem desafiar a lógica. Um dos monólitos lembra, inclusive, a cabeça de um ser extraterrestre.
Para alguns ufólogos e místicos, essas pedras funcionam como portais naturais ou marcos energéticos, tornando Quixadá uma espécie de “base terrestre” para visitas de outras dimensões ou planetas. Esses elementos não apenas embelezam a região, mas alimentam a aura de encantamento e questionamento que envolve a cidade.
A Guerra Fria e a epidemia dos discos voadores
Os anos 1950 e 1960 não foram marcados apenas pelos relatos de óvnis em Quixadá. O mundo vivia o auge da Guerra Fria, e o céu parecia ser o novo campo de batalha entre os Estados Unidos e a União Soviética.
Entre lançamentos de satélites, mísseis e testes nucleares, não faltavam motivos para que as pessoas olhassem para o céu com medo, ou esperança. Relatórios oficiais dos EUA, como o Projeto Blue Book, registraram milhares de avistamentos, muitos dos quais permanecem sem explicação até hoje.
No Ceará, os jornais da época noticiaram luzes, estrondos, tremores de terra e aparições misteriosas. Era como se o sertão tivesse se tornado uma tela onde os anseios e temores da humanidade se projetavam.
O olhar psicológico de Carl Jung
O renomado psiquiatra Carl Gustav Jung também dedicou parte de sua obra ao fenômeno dos óvnis. Em seu livro “Um mito moderno sobre coisas vistas no céu”, Jung não procurava comprovar a existência de seres alienígenas. Em vez disso, via os discos voadores como expressões simbólicas do inconsciente coletivo.
Para ele, “alguma coisa estava sendo vista”, e isso dizia mais sobre a mente humana do que sobre os céus. A abordagem de Jung oferece uma leitura profunda e alternativa sobre o que ocorre em Quixadá: talvez os extraterrestres não estejam apenas no céu, mas dentro de nós, como representações de tudo aquilo que não compreendemos.
Quixadá como centro de estudo e inspiração
Com o passar dos anos, Quixadá tornou-se referência no estudo da ufologia no Brasil. Pesquisadores, cineastas e curiosos percorrem a cidade em busca de resposta, ou, pelo menos, boas histórias.
O longa-metragem “Área Q”, dirigido por Halder Gomes, levou os mistérios da cidade para as telas do cinema. Inicialmente pensado para ser filmado no deserto do Arizona, o filme acabou encontrando no sertão cearense um cenário ainda mais enigmático e inspirador.
Quixadá virou palco de conferências, debates e vigílias ufológicas. Uma cidade onde o sobrenatural convive com o cotidiano e onde as perguntas nunca param de surgir.
Mistério sem fim no coração do Ceará
O que faz de Quixadá um lugar tão especial? Será sua geografia singular, seus relatos surpreendentes ou o fato de ser uma espécie de espelho do desconhecido? Talvez a resposta esteja na combinação de tudo isso.
Há algo na cidade, um silêncio entre as pedras, um brilho nas estrelas, um sussurro no vento quente do sertão, que nos faz parar e olhar para cima. E quem sabe, talvez um dia, a resposta venha do céu.