De acordo com o Centre National du Cinéma et de l’image animée (CNC), o Festival de Cannes é o evento cultural francês mais celebrado no mundo. Realizado anualmente desde 1946, ele vai além da exibição de filmes e do glamour do tapete vermelho: Cannes é, sobretudo, um termômetro do cinema internacional.
Vale mencionar que entre suas muitas tradições, uma se destaca pela curiosidade que provoca: os longos minutos de aplausos após as exibições de gala.
Neste ano, o filme O Agente Secreto, do brasileiro Kleber Mendonça Filho, foi ovacionado por 13 minutos no Grand Théâtre Lumière. Apesar da comoção, a marca ainda está longe de superar o recorde de O Labirinto do Fauno, que recebeu 22 minutos de palmas em 2006. Mas o que esses aplausos realmente significam?
Palmas como estratégia de mercado no Festival de Cannes
A tradição dos aplausos em Cannes, embora pareça espontânea, é um fenômeno recente. A prática ganhou força nas últimas duas décadas, especialmente depois que veículos de imprensa começaram a cronometrar o tempo de ovação e destacar esses números em suas coberturas.
Com isso, as distribuidoras passaram a usar as palmas como argumento de venda. Isso porque, em festivais como Cannes, Veneza e Berlim, a recepção calorosa pode influenciar diretamente a disputa pelos direitos de exibição das obras.
Vale mencionar que esses aplausos acontecem em sessões de gala, onde o ambiente é altamente simbólico. Celebridades, produtores, familiares e convidados participam do momento, criando uma atmosfera emocionalmente carregada.
Em contrapartida, sessões voltadas para críticos e distribuidores, realizadas em horários distintos, oferecem análises mais técnicas e menos influenciadas pelo espetáculo.
Emoção ou efeito manada?
É importante mencionar que nem sempre as palmas refletem a qualidade cinematográfica de forma objetiva. Filmes consagrados hoje, como Taxi Driver e Maria Antonieta, foram vaiados em suas estreias. Já outros, como Demônio de Neon, receberam longas ovações, mas tiveram recepção fria da crítica e do público geral.
Um estudo de 2013 revelou que as palmas coletivas muitas vezes são resultado de contágio social. Ou seja, o ato de aplaudir pode ser mais uma resposta ao comportamento do grupo do que à apreciação real do filme.
Outro detalhe importante é que alguns diretores já pediram que as palmas fossem abreviadas, como fez Bong Joon-ho com Parasita, demonstrando que nem todos se sentem à vontade com a performance pós-créditos.