A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) recentemente publicou uma atualização importante em suas diretrizes para o rastreamento e diagnóstico do diabetes tipo 2.
A nova recomendação, que foi publicada na revista científica Diabetology & Metabolic Syndrome em março deste ano, reflete uma série de mudanças nas práticas médicas que visam aumentar a detecção precoce dessa condição silenciosa e suas complicações associadas.
A principal mudança envolve a redução da faixa etária de triagem, que passa a incluir todos os adultos a partir dos 35 anos, além de ajustes em alguns critérios de diagnóstico e uma ênfase na prevenção desde a infância e adolescência.
Redução da idade para início da triagem
Uma das principais alterações nas novas diretrizes é a redução da idade mínima para o rastreamento de diabetes tipo 2. Anteriormente, a triagem era indicada para adultos a partir dos 45 anos, agora passando a ser recomendada para todos os adultos a partir dos 35 anos, independentemente da presença de sintomas ou fatores de risco conhecidos.
Esta mudança visa identificar precocemente os casos de diabetes, antes que o paciente desenvolva complicações associadas à doença, como problemas cardiovasculares, que podem começar a surgir mesmo com níveis discretos de glicose elevados.
Além disso, para pessoas com menos de 35 anos, o rastreamento também se aplica aos que possuem sobrepeso ou obesidade, desde que associados a outros fatores de risco, como histórico familiar de diabetes tipo 2, hipertensão, níveis elevados de triglicerídeos, entre outros.
Inclusão do rastreamento em crianças e adolescentes
Outro ponto importante das novas diretrizes é a inclusão de crianças e adolescentes assintomáticos, especialmente aqueles com sobrepeso ou obesidade, no grupo de risco para o diabetes tipo 2.
O rastreamento nestes casos deve ser iniciado a partir dos 10 anos de idade ou após o início da puberdade, o que ocorrer primeiro, caso apresentem pelo menos um fator de risco adicional. Fatores como a presença de diabetes gestacional na mãe são levados em consideração, assim como a síndrome dos ovários policísticos e o sedentarismo.
Exames para diagnóstico
As novas diretrizes mantêm os exames de glicemia de jejum e hemoglobina glicada (A1c) como os principais métodos de triagem para o diabetes tipo 2. Ambos os testes devem ser realizados em conjunto para confirmação diagnóstica.
Se os resultados da glicemia de jejum forem iguais ou superiores a 126 mg/dl, ou se a hemoglobina glicada estiver acima de 6,5%, o diagnóstico de diabetes é confirmado, sem a necessidade de exames adicionais.
No entanto, se apenas um dos exames apresentar alteração, é necessário repetir os testes para confirmar o diagnóstico. Para os casos onde os níveis de glicose não são suficientemente elevados para indicar diabetes, mas ainda estão fora da faixa normal, recomenda-se a realização do Teste de Tolerância à Glicose Oral (TTGO), agora com um novo protocolo.
Mudança no protocolo do Teste de Tolerância à Glicose Oral (TTGO)
O TTGO, tradicionalmente realizado com uma coleta de sangue duas horas após a ingestão de glicose, agora será feito uma hora após a ingestão, o que proporciona uma detecção mais rápida e precoce de casos de pré-diabetes. Essa mudança tem como objetivo facilitar o acesso ao exame, especialmente em centros de diagnóstico, uma vez que o teste se torna mais simples e menos custoso.
Além disso, esse protocolo de uma hora tem a capacidade de identificar precocemente casos de pré-diabetes, aumentando em até 40% a detecção de indivíduos em risco de desenvolver a doença.
Isso é fundamental, pois, mesmo antes do diagnóstico de diabetes, níveis elevados de glicose já podem desencadear processos inflamatórios que favorecem o desenvolvimento de aterosclerose, aumentando o risco de infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
Orientação para profissionais de saúde
Outra novidade das novas diretrizes é a criação de um fluxograma clínico que orienta os profissionais de saúde sobre como conduzir o rastreamento de forma prática e eficiente.
Este material foi desenvolvido com base em evidências científicas, com o intuito de facilitar o diagnóstico precoce em diferentes contextos do sistema de saúde, garantindo que os médicos possam agir de forma segura e no tempo certo, otimizando os recursos disponíveis.
Crescimento do diabetes tipo 2 no Brasil e no mundo
A atualização das diretrizes ocorre em um momento crítico, diante do aumento global do diabetes tipo 2. A 11ª edição do Atlas da Federação Internacional de Diabetes (IDF) estima que cerca de 589 milhões de adultos entre 20 e 79 anos vivam com a doença no mundo.
No Brasil, a SBD estima que aproximadamente 20 milhões de pessoas convivam com o diabetes tipo 2, representando cerca de 10,2% da população. Esse cenário torna ainda mais urgente a implementação de estratégias de rastreamento e diagnóstico precoce.
Ao antecipar o início da triagem para os 35 anos e ampliar os critérios de rastreamento para diferentes faixas etárias e perfis clínicos, a SBD demonstra um compromisso com a prevenção, o diagnóstico precoce e a saúde pública.