A Polícia Federal investiga a advogada Cecilia Rodrigues Mota, presidente de duas associações de aposentados, por envolvimento em um esquema de fraude contra o INSS. Entre janeiro e novembro de 2024, ela fez 33 viagens, sendo algumas delas para o exterior. Ela esteve acompanhada de pessoas que teriam ligação com o esquema.
Em 2023, foram apenas oito deslocamentos, o que reforça a suspeita da PF. Os destinos incluíram cidades como Dubai, Paris e Lisboa. Seis dos acompanhantes foram identificados como possíveis beneficiários da fraude.
Acompanhantes receberam altos valores
Segundo o relatório da PF, os acompanhantes de Cecilia teriam recebido grandes quantias de dinheiro por meio de empresas ou escritórios ligados a ela. São eles:
- Charles Goes Freitas: recebeu R$ 366.988 e acompanhou Cecilia em cinco viagens, inclusive para Paris.
- Tiago Alves de Araújo: ganhou R$ 120 mil em diversas transações feitas pelo escritório de Cecilia. Participou de 15 viagens, inclusive para Lisboa.
- Marcelo Alexandre Pereira Lima: recebeu R$ 23.021,84. Fez 13 viagens, incluindo para Dubai e Lisboa. Chamou atenção da PF pelo volume de bagagens transportadas.
- Natjo de Lima Pinheiro: recebeu cerca de R$ 400 mil. Esteve em 15 viagens, inclusive para Lisboa.
- Sarah Jeslany de Andrade Santos: identificada como faxineira, viajou com Cecilia para Dubai. Recebeu R$ 353.055,43, valor repassado por Natjo.
- Tiago Schettini Batista: recebeu R$ 2.003.688,50 da Unaspub, sendo R$ 1.158.124,00 apenas em março de 2024. Também teria recebido R$ 6.100.865,46 de Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”.
Bagagens levantam suspeita de transporte de dinheiro
A PF desconfia que Marcelo Alexandre tenha levado dinheiro vivo nas malas. Segundo os cálculos da investigação, um passageiro pode transportar até R$ 5 milhões em cédulas de R$ 100, usando apenas bagagem de mão.
Em uma das viagens para Dubai, os acompanhantes levaram 31 malas. O relatório da PF destaca que a quantidade de bagagem é “incomum para uma viagem internacional de apenas sete dias”.
R$ 14 milhões movimentados em menos de um ano
Cecilia teria movimentado R$ 14 milhões em menos de um ano, valor repassado a pessoas físicas e empresas ligadas a ela. Os dados foram levantados pela investigação da PF.
A advogada presidia simultaneamente duas entidades: a Aapen (Associação dos Aposentados e Pensionistas Nacional) e a AAPB (Associação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil). Ambas são suspeitas de aplicar descontos indevidos em benefícios do INSS.
Estrutura compartilhada e indícios de fraude organizada
As duas associações funcionavam no mesmo endereço e dividiam a mesma estrutura. Para a Controladoria-Geral da União (CGU), esse modelo indica tentativa de burlar a fiscalização, operando como uma organização fracionada.
A PF ouviu 35 beneficiários do INSS que relataram não conhecer as associações e não ter autorizado qualquer desconto em seus benefícios.
Batizada de Operação Sem Desconto, a investigação descobriu indícios de assinaturas falsificadas e serviços que nunca foram prestados. A estimativa é de que o esquema possa ter causado um rombo de R$ 6,3 bilhões aos cofres do INSS.