O setor imobiliário brasileiro tem mostrado resultados operacionais contrastantes entre as diferentes faixas de renda, com destaque para o segmento de baixa renda, que atende ao programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV).
Este segmento está liderando o crescimento no primeiro trimestre de 2025, enquanto as construtoras focadas no mercado de médio e alto padrão estão enfrentando uma performance mais modesta. Essa diferença de momento deve se acentuar ainda mais devido às recentes mudanças anunciadas para o MCMV.
Crescimento no segmento de baixa renda
O mercado voltado para o MCMV tem apresentado resultados expressivos. Segundo dados de 19 incorporadoras, houve um crescimento de 60% nos lançamentos e de 18% nas vendas líquidas no primeiro trimestre de 2025.
Esse desempenho é um reflexo da alta demanda por moradia popular, impulsionada por fatores como a estabilidade no emprego e as condições mais favoráveis para o financiamento de imóveis na faixa de renda mais baixa.
Este cenário é respaldado pela continuação do apoio governamental ao MCMV, com atualizações no programa que incluem novas faixas de renda e ajustes no teto de preço dos imóveis.
A nova faixa 4 do MCMV, com limite de renda de até R$ 12 mil, e o aumento no teto de preço para imóveis (de R$ 350 mil para R$ 500 mil) devem intensificar ainda mais esse crescimento, gerando novas oportunidades para as incorporadoras que já atuam nesse nicho.
Desafios para o segmento de médio e alto padrão
Enquanto o segmento de baixa renda vê um crescimento robusto, o mercado de médio e alto padrão tem mostrado um desempenho mais contido. O aumento dos juros e a pressão sobre o crédito imobiliário têm afetado a capacidade de compra dos consumidores, resultando em uma leve queda de 0,7% nas vendas dessas incorporadoras.
Apesar disso, as empresas desse segmento têm surpreendido positivamente o mercado. A dinâmica do emprego no Brasil tem ajudado a manter a demanda estável, o que é considerado um bom sinal diante da alta dos juros.
No entanto, a expectativa é de que, a longo prazo, o cenário de juros elevados possa impactar mais severamente as vendas, caso a economia enfrente uma desaceleração.
Mudanças no MCMV e o impacto nas incorporadoras
Recentemente, o programa Minha Casa, Minha Vida passou por mudanças que devem beneficiar as incorporadoras focadas no segmento de baixa renda. A principal alteração é a criação da faixa 4, que atenderá pessoas com rendas de R$ 8,6 mil a R$ 12 mil e permitirá imóveis de até R$ 500 mil. Isso ampliará a base de clientes, já que muitas famílias que antes não se encaixavam nas faixas anteriores agora poderão acessar o programa.
Além disso, as faixas de renda das outras categorias também foram ajustadas, o que amplia o alcance do programa. Essas mudanças devem ter um impacto direto nas incorporadoras que já estão bem posicionadas nesse mercado, como a Cyrela, Cury, Direcional e MRV. A expectativa é de que essas empresas aproveitem as novas condições para expandir seus lançamentos e aumentar as vendas.
Expectativa para empresas de médio e alto padrão
Algumas empresas de médio e alto padrão, como a Trisul e a Moura Dubeux, já demonstraram interesse em adaptar seus projetos à nova faixa do MCMV. Isso pode representar uma oportunidade de crescimento, dado que o mercado de alta renda está mais competitivo e saturado.
A mudança nas faixas do MCMV pode, assim, ser uma estratégia para diversificar e conquistar novos nichos de mercado.
Embora o foco de muitas dessas incorporadoras seja o mercado de luxo, algumas já estão se preparando para a transição, adequando seus projetos às novas regras. A Trisul, por exemplo, afirmou que 21% de seu estoque está dentro da faixa 4 do programa, o que pode significar um movimento inteligente para aproveitar a demanda aquecida no segmento de renda média.
Impactos na estratégia das empresas
A mudança nas regras do MCMV tem forçado as incorporadoras a repensarem suas estratégias. Algumas, como a Cury, já estão colhendo frutos dessa adaptação, com um crescimento significativo de 78% nos lançamentos e 45% nas vendas no primeiro trimestre de 2025.
Para a empresa, as novidades no programa devem continuar incentivando um ritmo acelerado de lançamentos e de vendas, ao mesmo tempo em que podem melhorar suas margens de lucro, devido à redução do número de clientes que não se enquadravam nas faixas do programa.
A Direcional, por sua vez, está focada em aumentar a velocidade de vendas, e as mudanças podem permitir que a empresa reveja suas metas de produção. O sucesso dessa estratégia dependerá de como a empresa conseguirá se adaptar rapidamente às novas faixas do MCMV e aproveitar as oportunidades que surgem.
Resultados das ações no mercado de capitais
O mercado de ações também tem reagido positivamente aos resultados do setor imobiliário, especialmente para as incorporadoras do MCMV. Empresas como a Trisul, Cury, Moura Dubeux e Cyrela viram suas ações valorizarem mais de 50% desde o início de 2025, um desempenho muito superior ao do Ibovespa, que subiu 12,2% no mesmo período.
Isso reflete a confiança do mercado nas perspectivas de crescimento do setor de baixa renda, especialmente com as recentes mudanças no MCMV. A MRV, apesar dos resultados mistos e da operação internacional da Resia, também viu suas ações subirem significativamente, o que demonstra um otimismo cauteloso em relação à recuperação do mercado.
A adaptação às novas faixas de renda e aos ajustes no programa será crucial para o sucesso das empresas nos próximos meses.
Aqueles que souberem aproveitar a demanda crescente e se ajustarem rapidamente às novas regras têm grandes chances de prosperar, enquanto as empresas de médio e alto padrão podem buscar novas estratégias, como o ajuste de projetos e a diversificação de portfólio, para se manter competitivas no mercado.