Uma pesquisa brasileira recente, publicada na Caries Research em 24 de abril, destaca que cáries em adolescentes podem ser um marcador precoce de desequilíbrios na saúde. A pesquisa analisou dados de 2.515 jovens de 18 e 19 anos, de São Luís (MA), em um acompanhamento iniciado desde o nascimento.
O estudo revelou que, além do consumo elevado de açúcar, as cáries estão associadas a hábitos alimentares pouco saudáveis, tabagismo e consumo excessivo de álcool, fatores relacionados a doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes e problemas cardíacos.
Cáries e doenças crônicas
O estudo, utilizando um modelo estatístico detalhado, investigou como variáveis como dietas desequilibradas e comportamentos aditivos impactam no número de dentes com cáries, considerando também o papel do biofilme dental e a influência do status socioeconômico. Os resultados indicaram que jovens com dietas pobres e comportamentos de risco tendem a apresentar mais cáries ativas, o que sugere um impacto negativo na saúde bucal e geral.
Entre os fatores observados, o consumo frequente de fast food, salgadinhos e bebidas açucaradas foi diretamente associado a mais cáries. Além disso, comportamentos como fumar e consumir álcool agravam o problema, especialmente devido ao impacto no biofilme dental.
A professora Cecilia Ribeiro, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e autora do estudo, alerta que a cárie dental não deve ser vista apenas como um problema local, mas como um reflexo de uma deterioração maior na saúde do adolescente. Ela observa que a cárie pode ser um sinal inicial de problemas mais graves, como diabetes e doenças cardíacas.
Análise social e conclusões
A desigualdade social também se reflete na saúde bucal, como apontado pelo estudo, que revelou que jovens com melhores condições socioeconômicas apresentaram menos cáries e menores níveis de biofilme. Esses dados indicam que as condições financeiras desempenham um papel significativo na saúde bucal. Ribeiro sugere que, além de orientações sobre escovação, é necessário adotar ações estruturais, como a taxação de alimentos ultraprocessados e subsídios para alimentos saudáveis, especialmente para as populações mais vulneráveis.
Embora o estudo não tenha estabelecido uma relação direta de causa e efeito, sua metodologia robusta e a amostra representativa fornecem uma nova perspectiva sobre os riscos associados às cáries em adolescentes. Em investigações futuras, os pesquisadores pretendem explorar as conexões entre elas, obesidade e resistência à insulina.