Pesquisadores da Colorado State University, nos Estados Unidos, estão mais perto de compreender um dos fenômenos naturais mais intrigantes registrados no ambiente marinho: os chamados “mares leitosos”.
Isso porque, após quatro séculos de relatos esporádicos por parte de marinheiros que testemunharam o brilho contínuo das águas em alto-mar, um banco de dados inédito pode abrir caminho para que a ciência finalmente decifre as causas e implicações desse espetáculo bioluminescente de grandes proporções.
De acordo com estudo publicado na revista científica Earth and Space Science, o fenômeno pode estar ligado a bactérias microscópicas chamadas Vibrio harveyi, que emitem luz de forma constante.
O banco de dados reúne mais de 400 relatos documentados ao longo da história, incluindo observações de satélite recentes que confirmam a extensão gigantesca dos eventos, que podem chegar a 100 mil quilômetros quadrados.
Fenômeno raro no oceano intriga cientistas há séculos
Vale mencionar que o brilho observado nos mares leitosos é diferente do provocado por organismos como os dinoflagelados, mais conhecidos do público por causarem faíscas azuladas ao serem perturbados por ondas ou peixes
Nos mares leitosos, o oceano inteiro parece se iluminar de forma constante, muitas vezes por noites seguidas, mesmo sem qualquer agitação na água.
Relatos históricos indicam que o fenômeno pode ser tão intenso a ponto de permitir leitura no escuro. Isso porque, ao contrário de eventos bioluminescentes mais comuns e localizados, os mares leitosos criam uma superfície iluminada homogênea, transformando completamente a paisagem marinha noturna.
A pesquisa aponta que a maior incidência desses eventos ocorre no Mar da Arábia e nas águas do Sudeste Asiático, regiões que registram ressurgências oceânicas, fenômenos em que águas profundas e ricas em nutrientes sobem à superfície. Além disso, há indícios de que o fenômeno possa estar relacionado a padrões climáticos globais, como o El Niño e o Dipolo do Oceano Índico.
Efeitos ecológicos e climáticos são desconhecidos
Outro detalhe importante é que os cientistas ainda não sabem ao certo como os mares leitosos afetam os ecossistemas marinhos. Hipóteses sugerem que o brilho constante pode interferir no comportamento de espécies que dependem da escuridão para caçar ou se esconder, além de possíveis impactos na cadeia alimentar oceânica.
Com isso, entender esse fenômeno pode oferecer novas pistas sobre os ciclos de carbono nos oceanos e as transformações nos padrões de biodiversidade marinha. Sendo assim, o banco de dados desenvolvido por pesquisadores da Colorado State University se apresenta como uma ferramenta crucial para investigações futuras.