Pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP), criaram uma embalagem sustentável e antiestática voltada para a indústria de eletrônicos. Chamada de criogel condutivo, a inovação é feita a partir de resíduos agrícolas, como o bagaço da cana-de-açúcar, combinados ao negro de fumo — material gerado pela combustão parcial de vegetais ou derivados de petróleo.
O resultado é um material leve, poroso, resistente ao fogo e com condutividade elétrica ajustável, que oferece proteção eficiente a componentes eletrônicos, além de representar uma alternativa ecológica ao plástico convencional.
Uso do bagaço de cana
Em baixas proporções de negro de fumo (entre 1% e 5%), o criogel conduz lentamente as cargas eletrostáticas, ideal para proteger dispositivos menos sensíveis. Quando a concentração ultrapassa 10%, o material se transforma em um condutor eficaz, capaz de proteger com eficiência componentes delicados como chips, semicondutores e placas eletrônicas usados em celulares, computadores e veículos.
De acordo com Juliana Bernardes, coordenadora da pesquisa, o objetivo é fornecer à indústria uma opção sustentável e de alto desempenho para substituir plásticos em embalagens técnicas. O estudo foi publicado na revista Advanced Sustainable Systems e contou com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Embalagens ecológicas
A patente do criogel condutivo à base de cana já foi registrada, e o CNPEM está em busca de empresas parceiras interessadas em viabilizar a produção em escala. Embora os custos ainda não tenham sido estimados, a expectativa é que o uso de resíduos abundantes, como o bagaço da cana, palha de milho e cavacos de eucalipto, contribua para tornar o processo economicamente viável.
A iniciativa está alinhada a uma tendência cada vez mais forte no mercado: a adoção de embalagens sustentáveis. Alternativas como papel reciclado, fibra de coco, fécula de mandioca e plásticos biodegradáveis vêm conquistando espaço. Pesquisas indicam que 96% dos brasileiros esperam que as empresas adotem ações sustentáveis, e 35% afirmam que deixariam de comprar de marcas que não respeitam o meio ambiente.