Em janeiro, o arqueólogo Carlos Zimpel Neto, acompanhado de sua equipe, adentrava a densa floresta amazônica, em busca de pistas que pudessem finalmente esclarecer um mistério que intrigava historiadores e arqueólogos há mais de um século: os vestígios completos da cidade portuguesa perdida no Brasil. A pesquisa focava na região do Rio Guaporé, onde, em 1913, fora descoberta a fortaleza militar portuguesa Real Forte Príncipe da Beira.
Contudo, o enigma permanecia sobre a localização dos outros vestígios da colônia. A jornada de Zimpel e sua equipe ganhou um novo impulso com o uso do LiDAR (Light Detection and Ranging), uma tecnologia a laser que permite “ver através” da densa vegetação, proporcionando uma visão mais clara da paisagem abaixo da copa das árvores e ajudando a revelar segredos ocultos pela floresta.
Cidade escondida
O uso do LiDAR desvelou um intricado conjunto de canais, estradas, fortificações militares e até vestígios de construções de pedra. Esse avanço marcou uma nova etapa no aproveitamento da tecnologia para desbravar os mistérios da Amazônia, desafiando teorias que negavam a possibilidade de sociedades complexas na região, considerada até então incapaz de abrigar grandes civilizações agrárias.
Em parceria com outros arqueólogos, Zimpel também localizou vestígios de uma cidade chamada Lamego, um importante componente dessa colônia perdida. Graças ao LiDAR, foi possível correlacionar essas descobertas com antigos mapas de espionagem espanhola do século 18, revelando novas fortalezas, estruturas militares e até uma imponente bateria de canhões.
Segredos da Amazônia
À medida que as descobertas se multiplicavam, o arqueólogo e sua equipe enfrentaram um grande obstáculo: os incêndios no “arco do desmatamento” da Amazônia, que ameaçavam destruir as ruínas. A área, rica em patrimônio histórico e biodiversidade, estava sendo devastada para dar lugar a fazendas de gado e plantações.
Apesar dos danos, Zimpel conseguiu localizar novas áreas que escaparam das chamas, ampliando as dimensões da cidade perdida. Essas revelações não apenas trazem à tona o passado colonial português na região, mas também demonstram a eficácia de tecnologias modernas como o LiDAR, capazes de desenterrar partes da história da Amazônia que estavam ocultas pela densa vegetação.