Em um movimento recente que ganhou atenção internacional, a China iniciou a censura de conteúdos relacionados às novas tarifas impostas pelos Estados Unidos, bloqueando postagens e buscas em plataformas de redes sociais sobre questões econômicas sensíveis.
Esta ação ocorre após a implementação de tarifas de 104% sobre produtos chineses, o que gerou uma série de reações tanto internas quanto externas.
Contexto das tarifas impostas pelos EUA
Em 9 de abril de 2025, o governo dos Estados Unidos implementou uma nova rodada de tarifas “recíprocas” sobre vários produtos, incluindo aqueles provenientes da China.
A tarifa de 104% sobre produtos chineses reflete uma postura econômica mais agressiva da parte dos EUA, intensificando a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. As tarifas afetam uma grande quantidade de bens, de eletrônicos a produtos manufaturados, e têm implicações econômicas tanto para os EUA quanto para a China.
Censura nas redes sociais chinesas
A censura chinesa sobre este assunto é um reflexo da preocupação do governo com a opinião pública e a forma como as informações econômicas são divulgadas no país. As redes sociais chinesas, como o Weibo (semelhante ao Twitter) e o WeChat (aplicativo de mensagens amplamente utilizado), são monitoradas de perto pelo governo.
A partir da implementação das tarifas, buscas por termos como “tarifa” ou “104%” foram bloqueadas, e muitas publicações relacionadas foram removidas, com mensagens de erro ou aviso. Este controle rigoroso tem como objetivo evitar que os cidadãos chineses se envolvam em discussões que possam alimentar um clima de insatisfação ou criticar as políticas comerciais dos EUA.
Postagens favoráveis à China e a propaganda oficial
Curiosamente, enquanto o conteúdo relacionado às tarifas era censurado, publicações que criticavam os EUA ou retratavam os americanos de forma negativa receberam grande destaque. Uma das postagens mais populares foi uma do canal estatal CCTV, que descrevia os EUA como um parceiro comercial “irresponsável”.
A publicação destacava, em tom irônico, como os americanos estavam “agitando a bandeira tarifária” enquanto, ao mesmo tempo, enfrentavam uma escassez de ovos, sugerindo uma desconexão entre suas políticas econômicas e as necessidades diárias da população.
Essas postagens, que estavam alinhadas à narrativa do governo chinês, refletiam uma tentativa de fortalecer o apoio à posição oficial, apresentando os EUA como uma nação que, além de ser agressiva nas tarifas, também carecia de recursos básicos.
A censura seletiva foi usada para promover uma narrativa controlada e minimizar a exposição a críticas mais amplas sobre as repercussões econômicas das tarifas.
Retaliação comercial chinesa
Como resposta à agressividade das tarifas dos EUA, o governo chinês anunciou, no mesmo dia, a implementação de tarifas de 84% sobre uma série de produtos norte-americanos. A medida visa pressionar os EUA, buscando equilibrar a balança comercial e proteger os interesses econômicos da China.
Entretanto, essa retaliação também traz consigo desafios, principalmente para os consumidores chineses, que terão que pagar preços mais altos por produtos populares como aparelhos da Apple e carros da Tesla.
A decisão de aumentar as tarifas contra os EUA é, sem dúvida, uma forma de protesto, mas também representa um dilema econômico, pois os produtos dos EUA continuam a ser amplamente procurados na China, e a medida poderá impactar diretamente os consumidores locais.
Censura digital
O “Grande Firewall” é o sistema de censura e vigilância da internet da China, projetado para isolar o país de influências externas e controlar a disseminação de informações.
Plataformas estrangeiras como Instagram e X (antigo Twitter) são regularmente bloqueadas, e os cidadãos chineses dependem de alternativas locais, como o Weibo e o WeChat, para acessar informações e se comunicar.
Essa censura nas redes sociais tem sido uma ferramenta essencial para o governo chinês manter o controle sobre a narrativa interna e garantir que a opinião pública seja moldada de acordo com os interesses do Partido Comunista.
A censura de conteúdos econômicos sensíveis, como as tarifas, reflete a estratégia da China de evitar descontentamento popular e proteger sua imagem internacional. No entanto, ela também levanta questões sobre a liberdade de expressão e o acesso à informação no país.
Impacto econômico
Com o aumento das tarifas e as tensões em ascensão, muitos analistas preveem uma guerra comercial prolongada entre as duas potências globais. A China pode, eventualmente, ser substituída por outros países, como o Vietnã ou a Índia, na produção de bens para os EUA, o que pode afetar a cadeia de suprimentos global.
No entanto, a postura chinesa é clara: o país está disposto a lutar até o fim para proteger seus interesses econômicos, mesmo que isso signifique pagar um preço mais alto por produtos estrangeiros.
Esse cenário de guerra comercial não só altera as relações entre os dois países, mas também cria incertezas para as empresas e consumidores em todo o mundo, que enfrentam um ambiente de comércio global cada vez mais instável.
Impacto nas ações chinesas e o suporte governamental
As tensões comerciais também tiveram reflexos no mercado de ações. Em 7 de abril de 2025, as ações chinesas sofreram uma queda significativa de 7%, com o Índice Composto de Xangai registrando seu pior desempenho em cinco anos.
No entanto, em 9 de abril, o mercado se recuperou parcialmente, impulsionado por promessas do governo de apoio aos mercados locais. Essa recuperação reflete a confiança do governo chinês em sua capacidade de controlar a economia interna, mesmo diante das dificuldades externas.
O futuro das relações comerciais entre as duas potências dependerá, em grande parte, de como elas gerenciarão suas políticas econômicas e as tensões resultantes dessa guerra comercial.