Um estudo da Universidade de São Paulo (USP), publicado em fevereiro no Journal of Sleep Research, identificou uma ligação entre traços de personalidade e a insônia, um dos distúrbios do sono mais comuns no mundo. A pesquisa sugere que fatores psicológicos individuais podem ter impacto direto na qualidade do sono.
A investigação foi conduzida com base em dois modelos teóricos: os “três Ps” da insônia — predisposição, precipitação (gatilhos) e perpetuação (hábitos que mantêm o quadro) — e o modelo dos “Big Five”, que analisa cinco dimensões da personalidade: extroversão, neuroticismo, amabilidade, abertura à experiência e conscienciosidade.
Ligação personalidade e insônia
A pesquisa avaliou 595 voluntários com idades entre 18 e 59 anos, divididos em dois grupos: um composto por pessoas com insônia e outro formado por indivíduos sem dificuldades para dormir. Os dados revelaram que o grupo com insônia apresentou níveis significativamente mais altos de neuroticismo — característica ligada à instabilidade emocional e à dificuldade em lidar com o estresse.
Entre os insones, 61,7% registraram alto índice de neuroticismo, enquanto no grupo-controle esse percentual foi de 32%. Outros traços também se mostraram mais presentes entre quem sofre do distúrbio: 40,7% apresentaram baixa abertura à experiência (em comparação com 23% dos que dormem bem), 31,5% demonstraram baixa amabilidade (contra 23,2%) e 37,7% apresentaram baixa conscienciosidade (em contraste com 24,1% no grupo-controle).
Outras relações
Os pesquisadores observaram que, entre os traços de personalidade analisados, a extroversão foi o único que não apresentou diferença estatisticamente significativa entre pessoas com e sem insônia. Isso indica que não é possível concluir que indivíduos insones sejam mais introvertidos. Por outro lado, o neuroticismo se destacou como o traço mais fortemente associado ao distúrbio, evidenciando uma relação entre instabilidade emocional e dificuldades para dormir.
Diante desses achados, especialistas apontam para a importância de tratamentos mais abrangentes no combate à insônia. Segundo pesquisadores da USP, é essencial considerar, além da qualidade do sono, os fatores emocionais e psicológicos dos pacientes — especialmente aqueles com maior vulnerabilidade.