O Tribunal de Contas da União (TCU) trouxe à tona informações sobre os gastos de Jair Bolsonaro e de sua equipe durante os anos de seu governo, revelando o uso de cartões corporativos para despesas públicas que somaram ao menos R$ 41 milhões entre 2019 e 2022.
A auditoria foi realizada no âmbito do TCU, cuja missão é garantir a correta aplicação do dinheiro público, zelando pela transparência e pela legalidade dos gastos da administração federal.
A natureza da auditoria do TCU e seus achados
O TCU, por meio de uma auditoria detalhada, concluiu que o ex-presidente Jair Bolsonaro e sua equipe de governo gastaram mais de 41 milhões de reais utilizando o cartão corporativo da Presidência da República.
Os valores foram dispendidos entre 2019 e 2022, abrangendo, portanto, um período que incluiu não apenas os primeiros anos de seu mandato, mas também a reta final de sua presidência, marcada por tensões eleitorais e políticas.
A auditoria do tribunal tem como objetivo assegurar que os recursos públicos sejam aplicados de maneira correta, sem desperdícios ou fraudes. O fato de os gastos ocorrerem com o cartão corporativo levanta questões sobre a fiscalização desses valores, especialmente em uma época de intensas controvérsias políticas e acusações contra o ex-presidente.
Principais categorias de gastos
De acordo com as conclusões do TCU, os maiores gastos foram direcionados a algumas categorias específicas:
- Hospedagem (R$ 17.262.969,50): O maior gasto registrado com o cartão corporativo foi para hospedagens, representando mais de 40% dos valores totais. Isso levanta questões sobre a natureza e a justificativa dessas despesas, especialmente considerando o contexto de viagens oficiais e a possível relação com a agenda política do ex-presidente.
- Alimentação (R$ 13.091.299,72): Em segundo lugar, destacam-se os gastos com alimentação, que também representaram uma parcela significativa do total. Esses valores incluem despesas com refeições, transporte e serviços alimentícios relacionados às viagens e eventos oficiais.
- Serviços de apoio administrativo e operacional (R$ 8.103.180,53): A terceira maior categoria de gasto inclui serviços de apoio logístico, como o aluguel de veículos e equipamentos, e serviços administrativos necessários para o funcionamento da Presidência da República e a realização de eventos governamentais.
- Locação de bens móveis (R$ 1.061.470,30): Esse gasto refere-se ao aluguel de bens como imóveis e veículos, componentes frequentemente usados em viagens e eventos relacionados ao governo.
- Combustíveis e lubrificantes automotivos (R$ 713.151,45): Embora essa categoria tenha representado uma parcela menor dos gastos totais, ela é relevante por indicar os custos de transporte oficial do ex-presidente e de sua comitiva.
Gastos durante o processo eleitoral
Além dos gastos gerais durante o mandato, o TCU também analisou as despesas ocorridas especificamente durante o período eleitoral de 2022, quando Bolsonaro tentava sua reeleição.
Durante o período de agosto a outubro daquele ano, o ex-presidente e sua equipe ampliaram as agendas políticas com o objetivo de angariar apoio para a campanha, o que gerou um aumento significativo nos gastos com cartão corporativo.
O TCU identificou um aumento de cerca de 45% nas despesas com alimentação, hospedagem e locação de bens móveis em relação ao ano anterior. Esse aumento foi especialmente notável nos meses de setembro e outubro de 2022, quando Bolsonaro intensificou sua campanha e sua comitiva se expandiu.
Além disso, o tribunal detectou que o PL (Partido Liberal), do qual Bolsonaro fazia parte, ressarciu aos cofres públicos R$ 6,7 milhões relacionados a transportes oficiais, utilizados durante os atos de campanha. A transparência e a legalidade desse reembolso são agora alvo de investigação por parte do TCU.
Implicações políticas e legais
Esses gastos estão sendo investigados no contexto de diversas apurações em andamento no TCU. O ex-presidente Bolsonaro, que já é alvo de investigações por outros motivos, incluindo alegações de envolvimento em tentativas de subverter o resultado das eleições de 2022, agora vê seus gastos sob um novo e detalhado escrutínio.
A possibilidade de irregularidades nas despesas relacionadas ao processo eleitoral de 2022 também é uma área de foco. O uso de recursos públicos em campanhas políticas, especialmente no período eleitoral, é um tema delicado, pois pode configurar abuso de poder econômico ou até mesmo fraudes, dependendo das circunstâncias.
Próximos passos da investigação
O TCU segue monitorando os gastos realizados pelo ex-presidente e sua equipe. Nas próximas fases da auditoria, a Corte de Contas irá investigar mais detalhadamente as circunstâncias em que esses recursos foram empregados, considerando a possibilidade de falhas na gestão pública ou práticas irregulares.
A análise específica sobre as motociatas (eventos de apoio ao ex-presidente realizados durante seu governo) e a viagem para Orlando no final de 2022 também estão entre os pontos de atenção. Essas atividades, que ocorreram em um momento de grande tensão política, ainda não foram plenamente investigadas, mas devem ser analisadas nas próximas etapas da auditoria.
O avanço das investigações e a transparência nesse processo serão cruciais para entender a dimensão do uso dos recursos públicos no último período do governo Bolsonaro e para a manutenção da credibilidade das instituições de controle no Brasil.