“Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” (Mt 18,20). Não. Não foi durante um evento religioso que esta passagem bíblica provocou uma verdadeira transformação em minha vida. Havia me desentendido com a professora do meu filho, à época com nove anos, e fui chamada à escola para uma reunião em que estariam eu, ela, a coordenadora geral e o médico antroposófico da instituição.
Ao iniciar o encontro, a coordenadora proferiu a frase que abre esta coluna para, de alguma forma, nos lembrar que havia a energia de uma criança em nosso meio, afinal era em nome dela que estávamos reunidos. Foi aí que tive a dimensão exata da profundidade das palavras de Jesus, segundo o Evangelho de São Mateus. Para invocar memórias ou simbolicamente a presença de alguém, basta que nos reunamos em sua honra amorosamente. Não preciso dizer do resultado reconfortante da reunião escolar.
Por toda essa lembrança, impossível pensar em outra frase mais marcante, a fim de descrever meu sentimento ao receber o convite para participar, na próxima quarta-feira, da Arena Conecta Local: “A Cidade Imaginada: um novo olhar para Juiz de Fora”, juntamente com João Antônio de Paula e César Piva, na abertura da programação do segundo dia do Fórum Próximo Futuro, de iniciativa da Prefeitura de Juiz de Fora. E, também, no mesmo dia, da Arena Temática: “A cidade inclusiva: sócio-criativa e inovadora”, ao lado de Jailson de Souza e Silva, Leonardo Castriota e Tailze Melo.
Além da enorme satisfação pessoal em ter meu nome relacionado ao evento tão esperado por diversas gerações, em um esforço para expurgar a melancolia típica que acomete os que vivem no passado, sinto, com igual alegria, que é chegada a hora de imaginarmos coletivamente, entre tantos cenários possíveis, também um novo 14 de maio de 1888 para a cidade que abrigou o maior número de escravizados do estado.
“A essência da palavra economia – eco – é lugar, é casa. É cuidar da casa, da cidade, do planeta. A economia é uma ferramenta para cuidar do outro. Precisa estar a serviço do bem-estar social. Ela só é criativa se realizar tudo isso”. Cesar Piva.
Não se trata de reviver memórias de dor e sofrimento, até porque o período de riquezas que embala o saudosismo local está calcado, sobretudo (como tudo neste país), no trabalho escravo de negros e negras. Lançar luz sobre o passado, portanto, é uma forma de ressignificar nossas memórias, não apenas para evitar que os erros cometidos contaminem nosso próximo futuro, como para lembrar bem lembrado do enorme potencial e da riquíssima contribuição que oferecemos e temos a oferecer para a cidade, até porque somos a maioria da população.
Por isso, é importantíssima nossa participação ativa no Fórum que começa nesta terça-feira. De todas as oportunidades que já surgiram no horizonte, essa, definitivamente, é a mais concreta no esforço para despertarmos do pesadelo genocida que empurra nossa raça diariamente para a miséria, a exclusão, o abandono e o esquecimento. Hora de convocar a força dos nossos ancestrais e atualizar nosso sonho em direção à verdadeira liberdade. Aquela que só é possível quando podemos ser, de fato, quem somos.
Economia criativa é aquela que resolve as mazelas que a própria sociedade cria
“Hora de convocar a força dos nossos ancestrais e atualizar nosso sonho em direção à verdadeira liberdade. Aquela que só é possível quando podemos ser, de fato, quem somos”., Lucimar Brasil.
A luta por um futuro mais próspero para a população como um todo de Juiz de Fora, passa, necessariamente, por entendermos as bases que fundamentaram nossas relações e, infelizmente, não há como fugir ao racismo. Como disse o jornalista e escritor Laurentino Gomes, autor da trilogia ’Escravidão’, ”tudo o que nós fomos no passado, o que nós somos hoje e o que seremos no futuro tem a ver com as nossas raízes africanas e a maneira com que nos relacionamos com elas hoje”. Sob este aspecto, nosso presente é preocupante.
Diretor-presidente da Agência de Desenvolvimento do Polo Audiovisual da Zona da Mata de Minas Gerais e do Instituto Fábrica do Futuro, instituição que está à frente da organização do 1º Fórum Próximo Futuro, Cesar Piva observa que “a cidade é a nossa maior invenção. É nela que a gente vive a essência do que é ser humano. É lugar do conflito. É lugar do consenso. É lugar de todas as mazelas, mas também de todas as potencialidades. A cidade é o locus”.
Por isso, o evento foi concebido tendo esse território como protagonista, para abordagens sobre reinvenção, inovação, imaginação, inclusão, democracia, comunicação, governança participativa, cultura, tecnologia, alimentação sustentável e criatividade, delimitando, assim, a investida para a transformação de Juiz de Fora em um polo internacional de Economia Criativa.
“A essência da palavra economia – eco – é lugar, é casa. É cuidar da casa, da cidade, do planeta. A economia é uma ferramenta para cuidar do outro. Precisa estar a serviço do bem-estar social. Ela só é criativa se realizar tudo isso”, acrescenta Piva, ao destacar o movimento inovador liderado pela prefeita Margarida Salomão, que lança desafios para que a própria cidade aponte as perspectivas que façam sentido para o coletivo. “São as escolhas feitas neste momento que decidirão o que seremos no futuro”.
COMPARTILHANDO
1º Fórum Próximo Futuro
De 26 a 28 de julho
Um encontro para iniciar a transformação de Juiz de Fora em um polo internacional de Economia Criativa
PROGRAMAÇÃO
Dia 26 (terça-feira)
16h – Olhar a Cidade
Local: Morro do Cristo
19h – Abertura Oficial
Local: Teatro Paschoal Carlos Magno
Margarida Salomão (Prefeita Municipal de Juiz de Fora), Ignacio Delgado (Secretário Municipal de Desenvolvimento Sustentável e Inclusivo, da Inovação e Competividade), João Roberto Lobo (Gerente Regional do SEBRAE Minas Gerais), Cesar Piva (Diretor-presidente do Instituto Fábrica do Futuro).
19h30 – Conferência Inaugural: “A cidade reinventada: o cuidado, a imaginação e a inovação local” – Ignacio Delgado (JF), Marta Porto (SP).
Saiba mais:
https://forumproximofuturo.org.br/