Durante um bom tempo de minha vida adulta, fui atemorizada por sonhos que, embora se dessem em circunstâncias e cenários distintos, sempre traziam a mesma mensagem. Neles, pela necessidade de providenciar algo urgentíssimo, me via andando pelas ruas de Juiz de Fora, à noite, nua, ou vez em quando, seminua, devido à ausência de tempo para me vestir.
O constrangimento pela pouca ou nenhuma veste ficava enevoado pelo cumprimento da obrigação, mas, ao acordar, era impossível esquecer tamanho sentimento de vergonha. O peito ardia em frangalhos. Só recentemente, tive a curiosidade de relacionar o devaneio onírico ao conto do escritor dinamarquês, Hans Christian Andersen, na obra-prima “A nova roupa do rei”.
Para manter a pose e a soberba, o monarca prefere desfilar nu diante dos súditos a ter que reconhecer que fora enganado por um falso alfaiate que lhe prometera a roupa mais luxuosa do mundo, quando, de fato, tratava-se de um engodo confeccionado em tecido inexistente, só visível, segundo seu criador, a pessoas inteligentes.
Ao vasculhar a internet atrás de interpretações da história de Andersen que dessem sentido a meus sonhos, me deparei com o artigo de Pedro Bueno, no site da Escola de Psicanálise de Curitiba, e sua feliz analogia a um trecho da poesia de Caetano Veloso que diz: “tudo cala frente ao fato de que o rei é mais bonito nu”.
Mostrar-se tal como se é, sem receio do julgamento alheio, não é tarefa fácil para ninguém, ainda mais no caso de nós, mulheres, cujo olhar objetificado e reducionista sobre nossos corpos tem nos conduzido ao crescente distanciamento da sagrada essência feminina. Perceber-se nua, ainda que, a princípio, provoque muito desconforto interno (e rebuliço externo), é, no entanto, um caminho seguro e revolucionário, para que a gente assuma cada vez mais a liderança da própria vida com tudo o que isso representa de mais simbólico, profundo e transformador para nós mesmas, para a sociedade, para o planeta.
A fim de contribuir nesta construção, o Instituto Vivart, organização da sociedade civil sem fins lucrativos, promove no dia 3 de abril, no Moinho, das 9h às 19h, o evento “Conversa de mulheres líderes”, que trará a Juiz de Fora grandes nomes de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Ceará ligados à pauta ESG (sigla em inglês para Meio Ambiente, Social e Governança), para estimular o equilíbrio da atuação feminina no universo dos negócios, do autoconhecimento e do bem-estar coletivo.
A programação, com atividades simultâneas, contempla quatro dimensões do desenvolvimento humano (cognitiva, espiritual, social e física) e está dividida em workshops temáticos, rodas de conversa, palestra, vivências do sagrado feminino, performances artísticas, dentre outros.
Entre as convidadas, a advogada Camila Torres (Diversidade e inclusão), a psicóloga Natália Tatanka (Empreendedorismo feminino), a consultora de branding Lorena Bittar (Mulheres e relações de poder nos negócios), a consultora Francine Póvoa (Governança e propósito), a cientista social, Amanda Quenupe (Relações com a comunidade), a consultora Nádia Rebouças (Comunicação para uma nova liderança), a especialista em comunicação para sustentabilidade, Karin Rodrigues (Meio ambiente e ecologia humana), a educadora Raiana Lira (Educação, arte e inovação social) e a terapeuta da Ayurvêda, Ma Devi Murti (Mulheridades – O ciclo da mulher).
O evento feito por mulheres e exclusivamente para mulheres é um convite para desnudar novas fronteiras do pensamento, visando à promoção da igualdade de gênero e à redução das desigualdades sociais sob a ótica feminina.
Sim.
As rainhas estarão nuas.
SAIBA MAIS
www.institutovivart.org