Bebidas e alimentos que podem afetar desenvolvimento do feto

Por Jeanne Carvalho

Foi a partir do exame de eco fetal realizado entre 24 semanas a 28 semanas de gravidez com uma médica cardiologista infantil que recebi a informação de evitar certos alimentos e bebidas a partir do terceiro trimestre gestacional para evitar problemas cardiológicos no bebê.

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”Uma pesquisa realizada no Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul vai restringir ainda mais a lista de desejos alimentares das mulheres grávidas. Isso porque o consumo materno de chimarrão, chá, cacau, café passado, suco de uva e outros alimentos ricos em polifenóis e flavonoides pode afetar o desenvolvimento da circulação do bebê durante a vida intrauterina, a partir do terceiro trimestre de gravidez (28 semanas).

Segundo o cardiologista, coordenador da pesquisa, Paulo Zielinsky, esses alimentos podem diminuir a quantidade de uma substância chamada prostaglandina no organismo da gestante e, por consequência, do feto, através da placenta. Esse efeito pode reduzir o calibre de um importante canal da circulação fetal, o ducto arterioso, que permite que 80% do sangue que sai do coração do bebê para os pulmões atinjam a circulação corporal, já que apenas 20% chegam ao pulmão, explica.

Esta pesquisa faz parte do Programa de Pesquisa para o Sistema Único de Saúde (PPSUS), apoiado financeiramente pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) e pelo Ministério da Saúde e visa incentivar pesquisas que gerem resultados para o sistema público de saúde brasileiro.

Após sete anos de pesquisa, Zielinsky se diz confiante com os resultados obtidos até o momento. Trata-se de um avanço no conhecimento, com um grande impacto na prevenção de problemas cardíacos tanto para o bebê durante a vida fetal quanto para o recém-nascido, disse.

Já em fase final de avaliação no programa, que tem ainda a parceria do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Secretaria de Estado da Saúde do RS, por intermédio da Escola de Saúde Pública/RS, o estudo prevê que seja feito uma orientação nutricional adequada às gestantes na rotina pré-natal, a fim de evitar a ingestão materna de alimentos ricos em polifenóis a partir do terceiro trimestre. Confira a entrevista com o cardiologista Paulo Zielinsky:

Quando começou e como foi realizada esta pesquisa?
Paulo Zielinsky –
 A pesquisa começou efetivamente no ano de 2005, embora os questionamentos que a motivaram já venham de vários anos. Foram iniciados estudos experimentais, administrando-se alimentos ricos em polifenóis a fetos de ovelha, com controle das alterações através do ultrassom cardíaco (ecocardiograma fetal) e da análise direta dos corações fetais por necropsia. Também foram feitos estudos clínicos em fetos humanos, comparando o ecocardiograma fetal dos bebês expostos a dietas maternas mais concentradas em polifenóis com aqueles cujas mães utilizavam quantidades menores dessas substâncias. Em trabalhos posteriores, avaliou-se a resposta do fluxo pelo ducto arterioso fetal tanto de bebês que apresentavam estreitamento do canal (constrição ductal), como em fetos normais, após a restrição dietética materna de alimentos ricos em polifenóis.

Além dos alimentos já citados, quais outros contém polifenóis e flavonoides?
Zielinsky –
 Os polifenóis e flavonóides estão presentes em muitos alimentos, mas aqueles que apresentam maior concentração são o chimarrão, chocolate amargo, café preto filtrado, chás caseiros, derivados de uva, laranja, bergamota e frutas vermelhas. Estes devem ser evitados pelas mães no final da gestação, mas alguns outros, embora não tão ricos em polifenóis, também possuem quantidades apreciáveis e devem ser limitados, como maçã com casca, azeite de oliva, nozes, amendoim e similares, cebola roxa crua, espinafre, brócolis e tomate.
É importante salientar que a restrição desses alimentos não implica em redução das suas propriedades nutritivas se eles forem substituídos por outros com menores concentrações de polifenóis, como limão, abacaxi, pêssego, mamão, melão, melancia, figo, caqui, alface, azeite de soja, e muitos outros.

Existe uma quantidade segura de ingestão destes alimentos?
Zielinsky –
 Essa questão é individual, já que cada gestante e seu bebê têm respostas diferentes a cada um dos polifenóis. Por isso, é prudente evitar aqueles alimentos em que suas concentrações são sabidamente mais elevadas.

O que lhe motivou a fazer este acompanhamento?
Zielinsky –
 A principal motivação para este estudo foi a constatação, ao longo dos anos, da grande frequência de casos de constrição ductal (o estreitamento anormal do ducto arterioso fetal) em que não havia descrição de utilização materna de medicamentos anti-inflamatórios, como diclofenaco, ibuprofeno, nimesulida e outros, cujo efeito de constrição do ducto arterioso já é conhecido há mais de três décadas.
Isso levou à busca de outra causa para esta doença, que pudesse ser comum às gestantes cujos bebês fossem acometidos. Ao investigarmos a história alimentar daquelas gestantes, o denominador comum era a ingestão de quantidades grandes de alimentos ricos em anti-inflamatórios naturais, os polifenóis. Isto levou à busca, na literatura médica, dos mecanismos de ação antiinflamatória e antioxidante dessas substâncias, ficando claro que elas dependem da inibição da prostaglandina, exatamente da mesma maneira que os antiinflamatórios medicamentosos.
A partir desse referencial, foi levantada a hipótese de que os polifenóis e flavonóides, por sua ação anti-inflamatória, poderiam causar estreitamento do ducto arterioso. A corroboração desta hipótese tem sido obtida de forma consistente pelos diversos trabalhos desta linha de pesquisa, muitos deles já publicados em importantes revistas da literatura internacional, além de ter sido apresentado em diversos congressos ao redor do mundo.

A pesquisa ainda está sendo realizada?
Zielinsky –
 Sim, estão em andamento vários projetos relacionados a esta linha de pesquisa, tanto em nível clínico como experimental. Estamos avançando na definição dos mecanismos dos efeitos nocivos dos polifenóis sobre o ductus, na busca das concentrações críticas de polifenóis que causam esses efeitos, no papel desta substância sobre a hipertensão pulmonar neonatal e outros.

Há perspectiva de implementação pelo SUS? Quais as condições para tal?
Zielinsky – Não há a menor dúvida de que os resultados desta pesquisa são aplicáveis ao SUS, já que a orientação dietética da gestante durante o pré-natal de rotina independe de custos, bastando para isso a implementação da medida como uma política pública, baseada em recomendações. Com base nos trabalhos desta linha de investigação, já está em andamento a publicação de uma Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre a prevenção da constrição ductal, que será levada para chancela do Ministério da Saúde, com orientações que os médicos devem passar às gestantes durante as consultas do pré-natal.”

Texto: André Rosa Lopes
Edição: Redação Secom

Jeanne Carvalho

Jeanne Carvalho

Fisioterapeuta, acupunturista. Saúde da mulher e assistência humanizada ao nascimento. Cuidados do pré-natal ao pós-parto. Siga meu instagram.

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