20 apresentar 20×2 álbuns de 1991 – Parte 4

Por Júlio Black

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Oi, gente.

Chegamos à metade da nossa série com 40 álbuns clássicos de 1991, o grande ano da música no século passado. Desta vez, temos o álbum que fez as pessoas descobrirem que o mundo seria um lugar muito melhor se ouvissem Teenage Fanclub; o clássico indie pop lo-fi do Beat Happening; Os Paralamas do Sucesso com um belo e mal compreendido álbum; o Soundgarden mostrando que o grunge também devia muito ao Black Sabbath; e o Kyuss saindo do deserto californiano para influenciar toda uma geração de músicos.

Para quem pegou o bonde andando, nossa série de álbuns clássicos de 30 anos atrás está saindo mensalmente, e nas edições anteriores já tivemos Nirvana, Pearl Jam, Public Enemy, The Orb, my bloody valentine e R.E.M., entre outros. E muito mais vem por aí.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Teenage Fanclub, “Bandwagonesque”
Nunca é demais lembrar que o mundo seria um lugar muito melhor se as pessoas ouvissem Teenage Fanclub. “Bandwagonesque” faz parte da lista de álbuns pop perfeitos lançados pelo grupo escocês em mais de três décadas, e por isso mesmo uma excelente apresentação para neófitos ou argumento para convencer pessoas de pouca fé.

O terceiro álbum da banda é o sublime em forma de música, com influência de nomes como Beatles, Big Star, The Byrds, Neil Young e Beach Boys, mostrando que o Teenage Fanclub enfim havia encontrado o caminho trilhado inicialmente pela soberba “Everything flows”, que abria o álbum de estreia do grupo, “A catholic education” (1990).

“Bandwagonesque” é essencial do início ao fim graças a músicas como “The concept”, “What you do to me”, “Metal baby”, “Star sign”, “Sidewinder” e… e… enfim, o disco inteiro, que fez com que a revista norte-americana “Spin” elegesse o álbum como o melhor de 1991 – e isso em um ano de “Nevermind”, do Nirvana, “Out of time”, do R.E.M., “Loveles”, do my bloody valentine, e pelo menos uma dúzia de outros discos absurdos de bons.

Beat Happening, “Dreamy”
É praticamente impossível encontrar um indie que não goste de Beat Happening, o lendário trio da cidade de Olympia, no estado norte-americano de Washington. Calvin Johnson, Heather Lewis e Bret Lunsford já marcaram presença em edições antigas dos 20 álbuns clássicos por conta de seu som básico, simples e direto até a alma, sem esquentar a cabeça com técnicas de gravação e melodias mais elaboradas, e por isso um dos grandes nomes do indie pop e da estética lo-fi da época.

“Dreamy” é uma das bíblias musicais que o Beat Happening deixou para seus fiéis seguidores, tanto os mais velhos como toda uma geração que se inspirou no trio – mesmo que eles não lancem álbuns há 29 anos. Valendo-se apenas de bateria, guitarra e a voz grave de Calvin Johnson na maioria das faixas, o quarto álbum da banda entregou clássicos como “Hot chocolate boy”, “Red head walking”, “Me untamed”, “Cry for a shadow” e “Fortune cookie prize”.

Os Paralamas do Sucesso, “Os grãos”
O início dos anos 90 foi cruel para a maioria das bandas do rock nacional, que amargaram vendas decepcionantes de seus álbuns e ainda apanharam da parte da crítica que idolatrava aquelas bandas dos amigos que cantavam em inglês, vistas como o “futuro” do rock. Se a banda ainda se aprofundasse nas raízes da música brasileira, aí que o couro comia. Como coerência é bobagem, essa mesma crítica passou a encarar, três anos depois, o movimento manguebeat e bandas como Raimundos e afins – que tinham como inspiração a música brasileira e regional – como o “novo futuro” do rock.

E poucos apanharam tanto quanto Os Paralamas do Sucesso. Apesar de ser uma banda que já incluía outros ritmos em álbuns como “Selvagem?” e “Big Bang”, seu sexto trabalho de estúdio, “Os grãos”, foi visto por muitos como um “álbum de MPB” – como se gravar MPB fosse uma ofensa, vai entender.

O mais irônico é que “Os grãos” não é um álbum de MPB, e sim um trabalho que tinha a Música Popular Brasileira como uma de suas inspirações, junto à música baiana, o pop, rock, rock argentino, Beach Boys etc. Quem não se deixou levar pelo preconceito dos anglófilos da ocasião vai lembrar que o disco tem dois dos maiores dos sucessos dos Paralamas (“Tendo a lua” e “Trac-Trac, versão de uma música do argentino Fito Paez), além de ótimas canções como “Tribunal de bar”, “Ah! Maria” e “Carro velho”.

Soundgarden, “Badmotorfinger”
O videoclipe de “Smells like teen spirit” fez mais do que transformar o Nirvana em lenda: graças a ele, o mundo direcionou os ouvidos para as bandas de Seattle que, colocadas no balaio de gatos do grunge, de repente se tornaram conhecidas e alcançaram o sucesso que não havia chegado com os álbuns anteriores. Este foi o caso do Soundgarden, que apenas com “Badmotorfinger”, seu terceiro disco, estourou a bolha do mundinho alternativo.

E a banda é um dos principais nomes a mostrar que o grunge era mais um apanhado de nomes com origens e influências diversas do que um movimento musical coeso, em que o mais importante era a camaradagem entre os artistas. Basta notar que “Badmotorfinger” tem como principal influência o heavy metal e o hard rock do início dos anos 70, em especial o Black Sabbath, do que o cruzamento entre Pixies e Sonic Youth da banda de Kurt Cobain.

Entre os exemplos mais marcantes dessa influência estão os clássicos “Outshined”, “Jesus Christ pose” e “Rusty Cage”, em que o falecido vocalista Chris Cornell encarna os demônios que diziam amém para Ozzy Osbourne.

Kyuss, “Wretch”
O Kyuss foi o tipo de banda que não teve o sucesso que merecia durante sua existência (1988 a 1995), mas foi a grande responsável por criar um estilo musical que logo ficou conhecido como stoner rock, que fez a cabeça de muita gente por aí, além de ter gerado a poderosa Queens of The Stone Age.

“Wretch” tem aquela mistura de rock pesado que casava perfeitamente o punk com o metal e o hard rock. E o trabalho de estreia – sem contar o EP lançado em 1990 – é uma verdadeira pedrada sonora, com pancadões como “(Beggining of what’s about to happen) Hwy 74”, “Son of a bitch”, “I’m not”, “Deadly kiss” e “love has passed me by”. Se o tal do “rock do deserto da Califórnia” existe, seus pais integravam o Kyuss.

Júlio Black

Júlio Black

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