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O meu amigo Spock

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Oi, gente.

O tempo não oferece contornos, chicanas ou pausas para o cafezinho, e é assim que nos damos conta que já se vão quase duas voltas completas de nosso planeta em torno do sol desde a morte de Leonard Nimoy, que encerrou sua vida longa e próspera num inesperado 27 de fevereiro de 2015. Pois é, quase dois anos de passaram desde que o intérprete do Senhor Spock, um dos mais icônicos personagens de “Star trek” e da cultura pop do século XX, ultrapassou a Fronteira Final.

A lembrança pegou-me de sobressalto no último sábado, quando assisti ao documentário “For the love of Spock”, disponível na Netflix há algumas semanas. O longa, realizado por meio de crowdfunding, é dirigido por Adam Nimoy, filho de Leonard, e teve sua produção iniciada antes da morte do ator, que infelizmente não pôde ver a obra finalizada.

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Com pouco menos de duas horas de duração, “For the love of Spock” não tem um acabamento primoroso como as grandes obras do gênero; fica evidente, desde o início, que falta talento – ou tempo, dinheiro – a Adam Nimoy para aplicar o verniz que deixaria a obra perfeita. Para o fã de “Star trek” em geral (e de Spock em particular), porém, a carpintaria cinematográfica ali presente – que traça um paralelo entre a carreira de Leonard Nimoy e seu personagem mais marcante, além de ajudar a compreender porque o vulcano é tão importante para a cultura do século XX – faz com que o filme atinja seu principal objetivo: homenagear um artista que fez história na TV e cinema e mostrar o seu lado humano, ironia para quem se tornou popular ao interpretar um personagem que se guiava pela lógica pura.

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O documentário é rico em imagens de arquivo, tanto particulares quanto de TV e cinema, e consegue passar por praticamente toda a vida de Leonard Nimoy. Assim, vemos o início da carreira de ator, decisão tomada contra a vontade dos pais; as primeiras aparições na TV e na tela grande; o casamento, o nascimento dos filhos e as dificuldades financeiras que fizeram com que se dividisse entre o ofício de ator e outras profissões; o sucesso com “Jornada nas estrelas”; os anos em “Missão: Impossível”; o reconhecimento como ator dramático na Broadway; a carreira de fotógrafo; os problemas familiares (em especial com Adam), frutos da intensa rotina de trabalho; o divórcio; a batalha contra o álcool; o segundo casamento, que recolocou sua vida nos eixos; e os últimos anos de carreira, quando voltou ao papel de Spock.

Além de depoimentos do próprio Nimoy, “For the love of Spock” tem como outros destaques entrevistas feitas com colegas de “Star Trek” (William Shatner, George Takei, Walter Koenig); com o roteirista e diretor Nicholas Meyer, de “A Ira da Khan”; com atores da nova versão da franquia, entre eles Simon Pegg e Zachary Quinto, seu substituto como Spock; o ator Jason Alexander (“Seinfeld”), fã declarado de “Jornada…”; depoimentos de familiares; e uma variedade quase infinita de fãs, que incluem até mesmo aqueles que sequer eram nascidos quando a série surgiu, em 1966.

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A imagem que fica de Leonard Nimoy ao final de “For the love of Spock” é que o ator, assim como todos nós, era humano, demasiadamente humano, com virtudes e defeitos. Mas o que se solidifica para a eternidade é uma figura bem humorada, simpática, solidária, inteligente, talentosa, amável e generosa, que deixou como legado para o mundo um personagem inesquecível e que aprendeu, com o passar dos anos, a entender que Spock era uma dádiva, jamais uma maldição.

Sabe aquela pessoa que você adoraria ter como amigo? Leonard Nimoy era assim. Pena existirem tão poucos seres humanos como ele espalhados pelo mundo – principalmente aquelas com orelhas pontudas.

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Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

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