Os desenhos (re)animados da Marvel

Por Júlio Black

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Oi, gente.

Uma das mais recorrentes reclamações dos fãs (chatos) de quadrinhos em relação aos filmes de super-heróis diz respeito à fidelidade ao material original – ou seja, as HQs às quais as produções muitas vezes recorrem na hora de preparar o roteiro. Essa chiadeira, às vezes, é justificável, se lembrarmos daquele Deadpool no filme do Wolverine, mas também totalmente descabida, se lembrarmos que nem tudo nas histórias em quadrinhos vai funcionar em outras mídias.

A solução para agradar a gregos, troianos e espartanos são as animações, coisa que a DC Comics costuma fazer muito bem com Batman, Liga da Justiça e afins. Ou então radicalizar e levar os quadrinhos diretamente para a TV, o que a Marvel realizou com as “motion comics” da série “Cavaleiros Marvel”, inicialmente lançada e vendida em aplicativos na década passada e que chegou sem muito alarde à Netflix. Para minha sorte, pessoas legais e abnegadas como Priscila Monitini dão a dica nas redes sociais e vamos lá assistir e curtir.

Explicando. As “motion comics” são animações que adaptam histórias em quadrinhos pegando as ilustrações originais e dando a elas movimento, profundidade, dublagem e alguma ação – quando é possível, pois este ainda é o principal problema por conta das limitações do formato. Assim, a Marvel pode levar para o público em geral e fãs de HQs em particular histórias que até poderiam ser levadas para o cinema, mas que dessa forma não perdem no quesito fidelidade – e que não correm o risco, assim, de ser estragadas ou ter um bando de malas chorando por conta de detalhes que deveriam passar batidos em favor da narrativa cinematográfica.

(Um pouquinho de digressão, por favor. As “motion comics” são bem diferentes e muito mais elaboradas que os famosos “desenhos desanimados” da Marvel que chegaram por aqui no final da década de 1960, produções toscas estreladas pelo Capitão América, Hulk, Thor, Homem de Ferro e Namor a partir das histórias em quadrinhos originais escritas por Stan Lee e desenhadas pelos mestres Jack Kirby, Steve Ditko e Don Heck, que utilizavam um processo rudimentar de transposição chamado xerografia. Ok? Voltemos).

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Do material que chegou ao cardápio da Netflix, “Cavaleiros Marvel” tem um verdadeiro dream team da nona arte. É Joss Whedon e John Cassaday com “Surpreendentes X-Men”; Reginald Hudlin e John Romita Jr. com o Pantera Negra; Warren Ellis (“Planetary”) e Adi Granov com “Homem de Ferro: Extremis”; Brian Michael Bendis e Alex Maleev com “Mulher-Aranha, Agente da E.S.P.A.D.A.”; e Robert Rodi e Esad Ribic com “Thor & Loki: Irmãos de sangue”. É uma boa oportunidade, como dá para perceber, de assistir na televisão a algumas das melhores histórias da Marvel nas últimas duas décadas, ainda mais com os traços de alguns dos melhores desenhistas da Casa das Ideias e com a reprodução praticamente 100% fiel dos diálogos das HQs.

De todas as animações, “Surpreendentes X-Men” é a melhor, não só pelos desenhos de John Cassaday (outro dos responsáveis por “Planetary”, a melhor HQ da história da humanidade) mas também pela forma como eles foram levados para a telinha. E não dá para esquecer, claro, do roteiro de Joss Whedon, que anos depois dirigiu os dois primeiros longas dos Vingadores. Com 13 episódios, as animações apresentam toda a história contada nas 24 edições comandadas pela dupla, com os X-Men tendo que lidar com Perigo, Cassandra Nova, Sentinelas e o beligerante Breakworld, planeta natal do cruel Ord.

 

“Thor & Loki” é outra adaptação que rende muito na televisão, por conta da forma que os desenhos de Esad Ribic foram levados para uma nova mídia e pela história muito boa, que mostra Loki como soberano de Asgard mas com sentimentos conflitantes em relação ao seu irmão, Thor. E também por perceber que aquilo que ele mais queria – o trono – não traria a tão sonhada satisfação. O arco do Pantera Negra com o Romitinha é muito bom e deve agradar a quem conhece o personagem apenas pelo filme (indicado ao Oscar!), e “Extremis” também ganhou uma adaptação que vale a pena ser assistida. De todas, a história da Mulher-Aranha é a única que fica abaixo do nível. Apesar dos desenhos de Alex Maleev e do roteiro de Brian Michael Bendis, a “motion comic” da heroína é a que mais lembra (de forma negativa) os citados “desenhos desanimados” dos anos 60, e é a única história em que a dublagem em inglês está pelo menos três tons acima do razoável.

Com um total de 27 episódios, cada um com cerca de 20 minutos de duração, “Cavaleiros Marvel”, é um desses achados na Netflix que servem para diminuir a ansiedade até a chegada de “Capitã Marvel” e – principalmente – “Vingadores: Ultimato” aos cinemas, além de servir de cartão de visitas para novos fãs ou para antigos leitores relembrarem de suas histórias favoritas. Bem que o serviço de streaming poderia disponibilizar os outros títulos da série.

Vida longa e próspera. E obrigado pelo peixes.

(Ou siga o Colin. Ainda assisto a “Bandersnatch” de novo).

Júlio Black

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