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Sonho e delírio com ‘Sandman: Prelúdio’

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Oi, gente.

Falar sobre Neil Gaiman deve ser mais difícil que explicar para um gato o Paradoxo do Gato de Schröndiger. Porque Neil Gaiman é um dos escritores mais importantes e geniais surgidos nas últimas três décadas e um dos meus autores favoritos nos quadrinhos e na literatura, então o risco de carregar nas tintas dos elogios é certeiro – mas mesmo assim merecido. O inglês escreveu o fabuloso “Deuses americanos”, mais “O oceano no fim do caminho”, “Os filhos de Anansi”, as coletâneas de contos “Coisas frágeis” e “Alerta de risco”, e as HQs “Orquídea Negra”, “Os Livros da Magia” e sua magnum opus na nona arte, “Sandman”. Imagine então a histeria, lá por volta de 2012 ou 2013, ao descobrir que Gaiman voltaria – mesmo que temporariamente – ao personagem que o tornou famoso na minissérie “Sandman: Prelúdio”.

E imagine a tortura de ter que esperar por quase quatro anos para ler as seis edições estreladas por Morpheus, o soberano do Sonhar.

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Pois foi este o tempo que se passou entre a publicação da primeira edição nos Estados Unidos e a publicação da edição derradeira, aqui no Brasil, que aconteceu apenas no final de 2016, com o miserável intervalo de cerca de um ano entre os livros dois e três. Ô, sofrência.
Pelo menos a tortura não foi no estilo “depois da queda, o coice”; a espera pelo encerramento de “Sandman: Prelúdio” foi no esquema final feliz, porque Neil Gaiman entregou uma das melhores histórias do personagem, do nível do arco “Estação das Brumas” – talvez a mais espetacular aventura de Sonho dos Perpétuos, de uma dimensão épica que não costumava ser vista na série do personagem.

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Vamos resumir a história, que se passa imediatamente antes dos eventos de “Sandman #1”, quando Morpheus é aprisionado por um bando de feiticeiros ingleses mequetrefes e medíocres. O soberano do Sonhar descobre que diversas personificações da sua essência morreram quando algumas estrelas enlouquecem e destroem tudo à sua volta, efeito retardado de uma decisão que ele tomou há muito tempo atrás. Pagar pelos “pecados”, aliás, é algo comum na vida de Morpheus, pois quem acompanha o personagem desde os primórdios sabe que, apesar de todo o poder, Sandman é uma figura extremamente vaidosa, irascível, orgulhosa, egoísta e volúvel – e este é o herói da história.

Ciente da besteira que fez, Sonho parte em uma missão para evitar a destruição do universo e terá como companhia uma personificação felina de si e uma garota chamada Esperança. Neil Gaiman aproveita ainda para mostrar o que levou o maligno Coríntio a ficar tanto tempo solto em nosso mundo e a criar uma trama paralela com Daniel, o substituto de Morpheus, além de mostrar quem são os país dos Perpétuos.

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“Sandman: Prelúdio” é prova de que Neil Gaiman apenas melhora com o passar dos anos, e que os tanto tempo distante do personagem (a última edição da série regular foi publicada há mais de duas décadas) não fez com que perdesse a mão na condução do universo de “Sandman”. É preciso destacar ainda o capricho e atenção dedicados ao que era o grande ponto fraco de parte considerável da série original: os desenhos, que desta vez ficaram a cargo de J. H. Williams III. O ilustrador norte-americano realizou um trabalho sublime, rico nos detalhes, cores e estilos diversos utilizados de acordo com o que a história exigia. Cada página de “Sandman: Prelúdio” é um deleite visual que faz com que desejemos ficar um pouquinho mais, só para descobrir um novo detalhe, uma nova tonalidade, tentar descobrir a inspiração para aquela pequena obra-prima. Para coroar o projeto, Dave McKean marca presença nas capas das seis edições da minissérie.

Para quem gosta de sonhar acordado, “Sandman: Prelúdio” é quase uma experiência tridimensional de formas, cores e – por que não? – sons, tão bem colocadas são as palavras.

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Todos os superlativos são poucos quando o assunto é Neil Gaiman.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

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