Uma grande Jornada com “Star Trek: Discovery”

Por Júlio Black

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Oi, gente.

Antes de começar a prosa, gostaria de avisar que a coluna desta semana terá spoilers de “Star Trek: Discovery” – nada muito pesado, mas mesmo assim spoilers. Então considere-se avisado.

Ok? Então vamos lá.

O ah migo leitor e a ah miga leitora talvez não imaginem o quanto o universo de “Star Trek” é importante para nós, os trekkers que têm na saga espacial-futurista idealizada por Gene Roddenberry uma ideia do potencial que a humanidade pode alcançar no futuro. E por isso mesmo foi uma felicidade sem tamanho saber que a franquia voltaria à televisão mais de uma década após o final de “Enterprise”, com uma produção tão caprichada em termos de roteiro, efeitos especiais e elenco, com uma história envolvente, personagens interessantes e mantendo o espírito original do universo trekker, ainda que com as devidas adaptações para os tempos atuais, tanto em termos filosóficos quanto sociais, culturais, políticos.

Um dos acertos dos responsáveis pela série foi situar a história cerca de dez anos antes dos eventos da Série Original, mostrando a guerra entre a Federação Unida de Planetas e o Império Klingon, o que permite agradar os fãs mais antigos com citações ao famigerado cânone. Desenvolver uma temporada com apenas 15 episódios, divididos em duas fases, ajudou a evitar o risco de termos histórias fracas, tapa-buracos, como no antigo formato de 24 a 26 episódios a cada ano. Além disso, nada do batido esquema de “um planeta por semana”: a primeira temporada de “Discovery” preferiu mesclar arcos distintos, indo da guerra com os klingons até uma “visita” ao Universo Espelho.

Por conta disso, a nova série de “ST” se distancia um pouco do espírito do original, que era mais leve em suas viagens pela galáxia, e está mais próximo das tensões observadas em “Deep Space Nine” e da eternamente subestimada “Enteprise”, que estreou duas semanas depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 e foi profundamente afetada pelo clima da época.

Da Série Original, o mais evidente é a preocupação com a diversidade, e nesse ponto “Discovery” está totalmente antenada com o nosso mundo multifacetado. A protagonista, Michael Burnham (Sonequa Martin-Green), é a primeira mulher negra à frente de uma série de “Star Trek” – e aqui vale ressaltar que é a primeira produção da franquia em que o capitão de uma nave espacial não é o centro das atenções. Além dela, a malaia Michelle Yeoh interpreta a capitã Georgiou e o inglês descendente de paquistaneses Shazad Latif ficou com o papel do oficial Ash Tyler. E temos ainda o primeiro casal abertamente homossexual do universo trekker, formado pelo engenheiro Paul Stamets (Anthony Rapp) e o médico Hugh Culber (papel do porto-riquenho Wilson Cruz).

E a diversidade, aqui, é mostra de qualidade, pois o elenco de “Star Trek: Discovery” é muito bem escalado. Sonequa Martin-Green é show de bola como a humana criada de acordo com a cultura vulcana, dividida entre os lados racional e emocional, e que precisa amadurecer com o desenrolar dos episódios, deixando de ser a figura impetuosa para entender a importância de medir a consequência de seus atos. Além dela e dos demais atores citados, também mandam bem na história Doug Jones, como o oficial kelpiano Saru; Jason Isaacs como o capitão Gabriel Lorca; Mary Wiseman como a cadete Sylvia Tilly; e Mary Chieffo como a klingon L’Rell.

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A representação das espécies alienígenas é outro lance que merece ser elogiado. Muito trekker xiita reclamou de mais uma atualização no visual dos klingons, mas as sutis mudanças físicas entres as casas do império e nas vestimentas ficaram ótimas. Sem contar que eles falam klingon quando estão sozinhos! Os outros alienígenas mostrados, como os kelpianos, andorianos etc., estão mais que convincentes.

E não dá pra falar da parte visual sem elogiar a preocupação com cenários e efeitos especiais, que parecem coisa de cinema. Nunca uma série de “Star Trek” teve tanto dinheiro para gastar com CGI, e é preciso ser muito ranzinza para reclamar que a tecnologia mostrada na produção está muito à frente da Série Original. Convenhamos que mostrar em pleno 2017-2018 uma nave espacial com botões coloridos seria motivo de piada. É para pensar que se Roddenberry fez o que podia com o orçamento da época, agora é hora de mostrar o melhor que os dólares podem oferecer – e nesse ponto “Star Trek: Discovery” é um espetáculo visual que deixa os fãs de ficção científica encantados.

A missão de “Star Trek: Discovery” não era fácil. Ser a responsável por trazer “Jornada nas Estrelas” de volta à televisão era uma senhora responsabilidade, e os encarregados da missão fizeram seu trabalho com louvor. Entre roteiristas, produtores, diretores, elenco, responsáveis por cenários, figurinos, maquiagens e efeitos especiais, todo mundo mandou bem. A cena final, com o encontro entre a Discovery e a Enterprise, foi de matar o fã do coração e aumentar ainda mais a expectativa pela segunda temporada, que após o final da guerra com os klingons deve tratar do conflito entre ciência e espiritualidade.

Como sempre, audaciosamente indo aonde ninguém jamais esteve.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Júlio Black

Júlio Black

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