Os trens conhecidos, desconhecidos e sumidos que a gente ouve

Por Júlio Black

Oi, gente.

Aos poucos a produção musical de 2019 começa a dar o ar da graça, e lá vamos nós em busca dos bons novos sons. Dentre as novidades, conferimos os mais recentes álbuns dos escoceses do Twilight Sad e dos americanos do Beirut, a salada mista de covers do sumido Lemonheads e, por fim, um ao vivo do inglês Peter Gabriel. Com estilos variados e propostas bem diferentes, é um quarteto que pode agradar nos fones de ouvido e caixas de som da moçada.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

 

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THE TWILIGHT SAD, “It won/t be like this all the time”
Era o final de 2018, e estava eu ouvindo uma rádio gringa quando algo chama minha atenção: uma mistura de shoegaze com punk, tenso, pesado, fui ver do que se tratava. Estava lá a capinha do disco “Forget the night ahead”, e o nome da banda, uma tal de Twilight Sad. Pensei “isso é bom, vou saber mais”, e realmente valeu a pena a descoberta tardia. Ainda mais que o quinteto escocês lançaria logo depois, em janeiro, “It won/t be like this all the time”, seu mais recente álbum (o quinto, veja só o tempo que perdi), cheio de músicas lindas de se ouvir e dançar e letras sobre perda, amor, angústia existencial, morte. Enfim, essas coisas que curtimos desde a época em que ouvíamos The Cure e outras bandas de alma trevosa dos anos 80. Dúvidas? Vai lá conferir “Videogram”, “Keep it all to myself”, “Vtr”, “Shooting Dennis Hopper shooting”, “Sunday Day13” e “[10 good reasons for modern drugs]”, depois levamos aquele papo.

 

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PETER GABRIEL, “Growing up live”
Um dos meus pecados musicais é ouvir pouco, mas muito pouco mesmo, Peter Gabriel, um dos caras que sabe o que quer, faz o que quer, e o que faz é simplesmente sensacional. Aí que o britânico solta nos serviços de streaming “Growing up live”, áudio de um show gravado em Milão (Itália) e que foi lançado em DVD em 2003. E que show, senhoras e senhores! Só biscoito fino: “Darkness”, “Digging in the dirt”, “Solsbury Hill”, “Secret world”, “Red rain”, “Mercy Street”, “Sledgehammer”, “The Barry Williams Show”… Dá vontade de correr atrás do DVD, porque Peter Gabriel ao vivo só é completo como experiência audiovisual. Mas o álbum, por enquanto, mais que vale a pena.

 

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THE LEMONHEADS, “Varshons II”
Gravar álbum de covers é coisa complicada, vide o Weezer com o dispensável e óbvio “Teal album”. Já o sumido Lemonheads se sai muito bem com “Varshons II”, segundo trabalho de releituras da banda-de-um-homem-só (Evan Dando) em uma década, que prefere revisitar canções obscuras, algumas de notórios desconhecidos do grande público. Aliás, engraçado pensar que o grupo é mais conhecido pelas suas versões de “Luka” (Suzanne Vega) e “Mrs. Robinson” (Simon & Garfunkel) que pelo próprio material autoral.

Seria melhor se continuassem assim, essa é a verdade. As covers do Lemonheads para “Can’t forget” (Yo La Tengo), “Straight to you” (Nick Cave and The Bad Seeds), “Things” (Paul Westerberg), “Settled down like rain” (The Jayhawks) e “Speed of the sound of loneliness” (John Prine), entre outras, conseguem ser fiéis às originais e ter um negocinho aqui e ali que as deixam com um jeito de coisa feita pela própria banda. Vai bem além de mera curiosidade: “Varshons II” é bem legal de se ouvir.

 

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BEIRUT, “Gallipoli”
Há muito tempo atrás, em outra vida, houve uma época em que ouvia Beirut direto. Era “The Flying Club Cup”, “March of Zapotec”, “Gulak Orkestar”, aí um belo dia perdi contato. O motivo? Não sei, só sei que foi assim. Retomamos contato com “Gallipoli”, novo álbum da banda/projeto encabeçada por Zach Condon, e o reencontro foi tranquilo, amigável, do tipo “quanto tempo, rapaz, vamos manter contato”. O que não vai ser difícil com músicas como “When I die”, “Corfu”, “Varieties of exile” e a faixa-título. É a mesma sonoridade multiétnica de uma década atrás, nada revolucionário ou que vá querer ouvir diariamente, mas vale a pena dar aquele “alô” ocasional para não perder contato.

Júlio Black

Júlio Black

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