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Sobre o tempo

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Oi, gente.

Vou dedicar a coluna desta semana àquele que é o maior inimigo do nerd/fanboy em geral: o tempo, este mano velho que ainda falta tanto para correr macio. A questão é meio recorrente na minha quase idosa massa encefálica, mas voltou com força na última terça-feira ao chegar em casa após a confraternização de fim de ano com os coleguinhas da casa. Mesmo cansado da labuta e da festa, ainda dediquei alguma meia hora antes do sono à biografia dos Smiths, que comecei há uns dois meses e que esperava terminar antes do show do Morrissey. O show aconteceu, Mozz já está em outro país e ainda falta pouco mais de cem páginas. E aí pensei: “putz, tanta coisa por fazer, e tão pouco tempo.”

A verdade é que o fã de cultura pop em geral poderia ser comparado ao Homem Desesperado de Albert Camus: aquele que deseja tudo ao mesmo tempo, e nada em particular. E isso pode causar uma angústia danada se o sujeito for como este que vos escreve e queira acompanhar tudo sobre música, cinema, literatura, séries, quadrinhos, virar concreto e assinar apólices complicadas tal e qual o alce daquele filme do Monty Python.

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Algumas coisas são mais fáceis de resolver. Música, por exemplo. Você pode ouvir no celular ou PC enquanto trabalha, está no ônibus, caminhando, lendo, na ponte aérea Juiz de Fora-Volta Redonda-Juiz de Fora, arrumando a casa, lavando a louça ou dando banho no cachorro. Quase nunca, porém, apenas deitado no sofá/cama para aproveitar a música por inteiro, acompanhar o encarte etc. Aí, se você tem milhares de álbuns no PC, centenas de CDs e os streamings da vida, complica deveras lembrar tudo o que ouviu.

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Cinema é um desespero, a não ser quando se vai até a sala escura; em casa, toda vez que você vê o tempo de duração do filme, acaba preferindo atualizar aquela determinada série (afinal, são apenas 40 minutos) e depois passear com o Imperador Django e tomar banho e jantar e lavar a louça e trocar o jornal do seu cão e ler um pouco mais daquele livro e conversar com a Leitora Mais Crítica da Coluna e descobrir qual a última da galerinha de Brasília.

E agora chegamos ao trio mais casca-grossa: quadrinhos, livros e séries. Começando pela última: são nada menos que sete séries acompanhadas atualmente (“Jessica Jones”, “Gotham”, “Agents of Shield”, “The Big Bang Theory”, “Family Guy”, “South Park”, “Ash vs Evil Dead”); mais um tanto (“Mad Men”, “Breaking Bad”, “Boardwalk Empire”, “Arrested development”, “Masters of sex”, “I Zombie”, “NCIS”, “Sherlock”, “Orange is the new black”) que prometo retomar – mesmo que a “promessa” dure mais de dois anos -; outras que só espero retornarem (“BoJack Horseman”, “New girl”, “The Americans”, “Silicon Valley”, “Sense 8”, “Agent Carter”); uma que vou, sim, acompanhar (“The man in the high castle”); e aquela baciada que quero começar, mas não consigo (“House of cards”, “Narcos”, “Manhattan”, “Better call Saul”, “The last man on Earth”, “Penny Dreadful”, “Hannibal”). Cláro, óbvio e evidente que isso não vai rolar.

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E há os mortais inimigos do meu criado mudo e – visualmente – da Leitora Mais Crítica da Coluna: os livros e revistas empilhados ao lado da cabeceira da cama. São livros do Murakami, Neil Gaiman, Camus, Elio Gaspari, poesia, Fábio Massari e biografias em geral aumentando a pilha, que ainda é fichinha perto das HQs. É “O Cavaleiro das Trevas”, “Do Inferno”, “O Perfuraneve”, “Sin City”, “Sandman”, volumes atrasados de “Monstro do Pântano, “Eu, Zumbi”, “Os Invisíveis”, “O Inescrito”, “Fábulas”, “Selvagem Wolverine”, “Hellblazer”, “Universo X”, “Paraíso X”, aqueles encadernados da Salvat… Milhares e milhares de páginas esperando por um tempo que os reles mortais não possuem – e que ainda vai diminuir quando o trio se transformar em quarteto, daqui a alguns meses.

Mas é a vida “desesperada” que resolvemos levar, então cabe a nós desacelerarmos o consumismo e a ansiedade de achar que podemos assistir a todas as séries e filmes do mundo, ler todos os bons livros já publicados e as HQs que alimentam o seu HD nerd.

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Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes e o tempo “perdido” com este seu ah migo.

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