Hoje em dia, os coloridos xaropes usados na produção de drinks lotam as prateleiras dos bares e botequins, cheios de marcas estrangeiras, como as francesas Monin e Routin 1883, ou ainda os produzidos em nosso país, como a linha Kaly da Stock. Mas muito antes deles, reinava absoluta nos butecos a groselha, bebida avermelhada e licorosa, com sabor único e muito, muito doce. Até hoje ela é ingrediente obrigatório para um drink oitentista: o Bombeirinho, que leva o nome por herdar a cor vermelha dos bombeiros e, dizem alguns, pelo fato de o açúcar proeminente “apagar o fogo” da bebida (logo abaixo deixo a receita do drink para vocês).
Ainda que durante seu reinado a groselha tivesse outros usos, como preparar um refresco para as crianças, diluída em água e gelo, ou no preparo de uma curiosa mistura usada para reavivar a cor dos pneus, a antes onipresente groselha perdeu seu lugar de destaque e, ainda que muito mais barata, foi sendo substituída pelos já citados xaropes no preparo de drinks. Virou até sinônimo de falar besteira: falar groselha é uma forma de se referir ao cidadão que muito fala e se perde em devaneios. Então vou ser curto aqui e já deixar a dica: não deixe de experimentar – ou relembrar – a groselha num autêntico drink de botequim, e guarde esse sabor em sua memória também.
Bombeirinho
Ingredientes
Cachaça prata
Limão-taiti
Xarope de groselha
Gelo
Preparo gourmet
Num mixing glass com gelo, coloque 30ml de cachaça, 10ml de suco de limão e 10ml de groselha. Misture com uma colher bailarina. Passe o líquido por uma coagem simples direto para o copo de shot.
Preparo de botequim
Use um copo americano, coloque ¼ ou mais de cachaça, medida diretamente no copo, mais ¼ de xarope de groselha, ou até completar meio copo. Esprema meio limão sobre as bebidas e rode o copo pra misturar, antes do gole único. Saúde!
Causos do botequeiro: groselha e o pneu “pretinho”
O primeiro carro da minha família foi um Fusca branco, que até hoje é lembrado com carinho nas conversas em casa. Aos sábados, passávamos a manhã toda lavando o besouro para o rolê da noite. E após encerar, cuidávamos dos pneus que precisavam adquirir uma cor preta para dar impressão de novos e completar o “look automobilístico”. Café adocicado, vaselina, groselha diluída e outras fórmulas eras utilizadas para tanto, afinal, o usual silicone era caro e não rendia nada.
Acontece que a groselha era fácil de achar, mas precisava de certa diluição para obter o efeito, e como eu e meu irmão não tínhamos nenhuma experiência nisso, certa vez passamos o xarope no pneu e deixamos secar logo após um enxame de abelhas aparecer por ali, atraídos pelo dulçor e aroma. Quando anoiteceu, saímos pela cidade e rodamos com o lustroso Fusca pelo Centro, Alto dos Passos, São Mateus e outros bairros onde havia movimento, notando que éramos alvo de olhares e comentários quando passávamos. Falei com meu irmão: “Zé, caprichamos desta vez e o Fusca tá lindão!”.
Orgulhosos do trabalho bem feito retornamos para casa e, ao estacionar, percebemos o motivo da atenção conquistada: a groselha deu errado e os pneus do carro estavam cor de rosa. E como coincidentemente era o final de semana do Miss Brasil Gay na cidade, a coloração deve ter sido percebida como uma homenagem ao evento. O acontecido foi tão engraçado que até hoje, quando chega o mês do concurso, nos lembramos da vacilada que demos naquele dia, e a groselha volta à memória, trazendo a vontade de preparar um drink com ela! Mas a ideia é só beber em casa mesmo, porque além de hoje usarmos os serviços de lava-jato, com o atual preço da gasolina, nem rolê estou fazendo mais por aí!