Lí por aí que a palavra whisky significa “água da vida”, o que me fez lembrar da “água que passarinho não bebe” – porque não sobra pra eles -, como chamam carinhosamente nossa cachaça. Nada mais justo que essa água da vida ganhe uma versão mineira pelas mãos da família Lamas, que começou a destilar bebidas há mais de 30 anos em Minas Gerais e que decidiu conquistar o mundo, incluindo aí nessas conquistas excelentes avaliações de seu whisky pelo papa da bebida, Jim Murray, talvez o maior especialista nesse destilado no mundo.
E a turfa?
Essa nova opção mineira logo me intrigou: como conseguiriam aquele esfumaçado tão característico dos whiskies da ilha, proveniente da queima da turfa, um material orgânico existente por lá usado no processo de secagem da cevada e que é responsável por deixar essa característica na bebida? Pois já sabendo desse nosso paladar, a Lamas passou a defumar a sua cevada com lenha de eucalipto de reflorestamento e “voilà”: temos nosso “turfado”, variando de leve a mais proeminente, de acordo com as várias versões produzidas por eles. Os rótulos vão do blend ao single malt, e tem também personalidade diferenciada conquistada nos barris de envelhecimento, no qual a bebida descansa por mais de cinco anos, sendo o de carvalho americano predominante, mas também podendo ter nuances deixadas pelo uso do carvalho europeu e também nossas madeiras preferidas para armazenar cachaça: amburana, bálsamo e jequitibá-rosa.
Quem, como eu, é bebedor de blend, whisky preparado a partir da bebida proveniente de vários produtores e que depois são engarrafados em rótulos consagrados como Johnnie Walker e Ballantines, pode começar pelo suave Canem, que segue a linha desses mixes de whiskies e é muito agradável ao paladar dos iniciantes. Já os mais puristas, amantes dos whiskies single malt, que só levam um único tipo de grão maltado em sua composição e não são misturados a outros destilados e nem entre si após a maturação, podem beber o Plenus, o Verus e o Nimbus, esse último avaliado no padrão dos whiskies excelentes, levando a nota 93/100 na “Bíblia do Whisky” do já citado Jim Murray, e tendo o sabor defumado como sua principal virtude.
Eu, que como disse acima, sou bebedor de blend desde quando só se achava Natu Noblis nos botequins da vida, e vim passando pelo abaunilhado Ballantines, depois pelo turfado Jhonnie Walker e sempre namorando as garrafas de Laphroiag nas prateleiras mais altas, agora tomei coragem e pretendo partir pro single malt mineiro mais esfumaçado, o Nimbus, e fazê-lo presente na meu buteco em casa. Obviamente de garrafa vazia, porque sou péssimo armazenador de líquidos no meu bar de casa: sempre bebo tudo que há por lá! E assim será mais uma vez! Se é água da vida, e é pela vida que estamos prezando tanto nesse momento, que a dose seja dupla. Saúde!
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