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Sob o Pirulito do Parque Halfeld

Frente fria se afasta de Juiz de Fora - Previsão do Tempo
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Coisa rara marcar encontro em praça pública hoje em dia (pra mim, registre-se). Geralmente é “vamos nos encontrar lá naquele café” ou então “passo aí pra te pegar tal hora” ou ainda “pode ser lá em casa”. Mas naquele início de tarde foi ali o combinado, no famoso Pirulito – de cujo epíteto, aliás, só há bem pouco tempo fui ter conhecimento. Pra mim foi sempre e sempre será “o relógio do Parque Halfeld”, que também registra as temperaturas com a fidelidade de um produto da Shopee.

Encontro na praça, caminhante leitor, é sempre um barato. Se você não está ansioso por algum motivo – por exemplo, apaixonado, quando as mãos restam suadas e o coração agalopado -, é uma oportunidade cada vez mais rara de ver a vida passar. Enquanto aguardava, pude apreciar o trote imparável do corpo social, feito de carne e pressa, abaixo dos cavalinhos tatuados pelo Portinari na epiderme pastilhada do Edifício Clube Juiz de Fora.

Ali sob o Pirulito a gente vê de um tudo: jovens de cabelos alaranjados escondendo os olhos ressaqueados atrás de óculos de camelô; madames magistradas em vestidos verdejantes, esvoaçadas pelo vento encanado da Rio Branco; a coreografia errática dos pombos desconfiados; moças em vestes sumárias conduzindo cachorros de pulôver; senhoras que vendem, sem muita fé, cursos bíblicos; o inamovível carrinho a carimbar o cheiro de pipoca na fachada das Repartições Municipais.

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Vi tudo isso e ainda pude olhar as manchetes dos impressos e folhear umas revistas na banca Pioneira. E mirar a escadaria do Palácio Barbosa Lima. A copa das árvores que se roçam sem poder consumar a conjunção de suas carnes vegetais. O mar de cabeças que deságua no Paraibuna. E entre elas uma quase menina de grossa cabeleira que vem de lá e, já bem perto de mim, dispara o saborosamente familiar “tô morrendo de fome”.

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