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São João vexado

guiducci cronica saojoao di cavalcanti
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Esses tempos estranhos têm nos subtraído a existência de diversas formas. Morre-se biológica e simbolicamente. Foram para as cucuias, por exemplo, as festas de São João. Não que não estejam acontecendo por aí, um pouco embaraçadas, tímidas, apenas em família, ou clandestinamente escancaradas em raves tecnocaipiras. Mas São João sem festa em escola não é um São João lá muito bento.
Festa de São João tem que ter quadrilha no pátio. A meninada andando pelas ruas de mãos dadas com os pais, os vestidos de chita colorindo a tarde fria, os chapéus de palha farfalhando na correnteza de jequinhas.
Tem que dar aquele frio na barriga na hora que a professora começa a formar os casais. O coração disparado quando seu nome é posto ao lado da menina que você gosta. E a máscara não é de polipropileno, mas bigode de carvão e dente pintado com lápis de olho.
Festa de São João que se preze não tem drive thru de paçoquinha nem concurso de roupa mais bonita no Instagram. “Posta e marca a escola, viu?” Sai pra lá! E o cheiro da pipoca, da canjica doce, de curau (São João é milho a dar com o pau!).
A tia da quadrilha tem que ser animada, a meninada às gargalhadas, os tensos muito concentrados em não errar passo, os cintura-dura pisando os pés das damas, os atrapalhados trombando no “olha a chuva!”. Um dentinho quebrado?
Num São João arretado mesmo a gente arrepia no francês: anarriê, travessê, sangê, caranchê, granmulinê, avancê, balancê e não sei mais o quê.
Mas não há São João de verdade em 2021.
Resta-nos esperar mais um ano. Por ora, fazer a fogueira no quintal, promover a pescaria no meio da sala, dançar com a mãe vacinada, se tivemos a sorte de ainda tê-la com a gente, aquecendo nosso coração na noite mais escura e fria do Brasil.

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