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As moças da televisão

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Seu Maurício da oficina anda intrigado com as moças da televisão, tão lindas.

A moça do tempo, nossa senhora, que perfeição, ele nem presta atenção no chuvão que está por vir, vai molhar radiador, biela e carburador, a homocinética da Belina exposta nos fundos da garagem.

A loira do esporte no jornal da manhã, a morena no gramado do Mineirão à noite. Sabem tudo de cabeça, escalação, regra, pontuação. E tão lindas.

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A moça da política com aqueles olhos enormes de ameixa, tão competente, parece que conhece toda gente em Brasília. A senhora séria sentada entre os homens de gravata, a outra em pé – aqueles saltos não lhes doem as batatas da perna, coitada?

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Em qualquer canal, a qualquer hora, tantas moças lindas, lindas, lindas.

Sente falta das pretas, o Seu Maurício da oficina.

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Não as pretas de nariz fino e cabelo liso, que entre as pretas da televisão são maioria e igualmente lindas, mas aquelas pretas, pretas, pretinhas do Moraes Moreira, aquelas assim bem africanas mesmo, cabelo crespo e nariz largo, raras na TV como sãos raros os diamantes de Serra Leoa – que ele viu num filme cujo herói é um preto também lindo, lindo.

Também não costuma ver chinesas nem índias, será que essas não estudam pra ser repórter? As japonesas? As gordinhas também não? Não vê uma como a Mariazinha do Tonôca, nem a Gertrude do açougue, a Alessandra do posto de gasolina, 100 quilos de simpatia e presteza.

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Em que mundo tão distante do bairro são filmadas essas moças tão lindas que não tem uma como a Soraia enfermeira, a Sônia da limpeza, a Solange da Tereza?

As moças são tão lindas, essas perfeições da natureza, que Seu Maurício anda se perguntando se o pessoal da televisão acha que a gente liga o aparelho pra ver notícia ou só mesmo pra ver boniteza.

Ilustra esta crônica “Preparing for a face-lift” (1981), de Emma Amos Conheça a artista clicando aqui.
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