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Por que bebê reborn?

bebê reborn
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Esta não é uma crônica sobre bebê reborn. Se era o que você esperava, peço perdão pelo título insidioso, mas pode economizar seu tempo e parar por aqui mesmo. Confesso, todavia, que cogitei dedicar algumas linhas ao assunto. Afinal, é próprio da crônica, vizinha da notícia nas páginas do jornal, a afeição às atualidades. Do ponto de vista estratégico, inclusive, seria ótimo: os mecanismos de busca na internet favorecem “conteúdos” (a palavra me enoja, daí as aspas) que estejam alinhados com aquilo que está nos “trends” (a palavra me enoja e é de língua estrangeira, daí as aspas). Para um cronista que pretenda ser lido pelo maior número de pessoas, é uma senhora oportunidade.

Entretanto, para escrever sobre qualquer matéria, é preciso ter o mínimo conhecimento sobre ela. E, para sua decepção, antenado leitor, eu não sei patavina sobre bebê reborn. Claro, é sempre possível dar uma engambelada, pesquisar alguma coisa no Google, assistir a algum vídeo de um pseudoespecialista no YouTube, relatar algum episódio relacionado que tenha saído no noticiário – de preferência algo jocoso -, entremear com algumas impressões pessoais tiradas de trás da orelha e, voilà, temos uma crônica. Mas eis a questão: eu não quero saber nada de bebê reborn. Então não irei ao Google, tampouco ao YouTube e me pouparei do noticiário relacionado.

“Mas é sua obrigação como jornalista…”. Pera lá, comandante. Como jornalista eu sou obrigado a procurar saber sobre os temas das notícias e reportagens que escrevo. Neste momento, por exemplo, estou até o pescoço de leis referentes a micro e minigeração distribuída de energia, módulos fotovoltaicos, sistemas de compensação e créditos energéticos. Mas como cronista, não sou obrigado a nada exceto à fruição do texto, para ti e para mim, como ensinou Roland Barthes. Pois você, leitor, só lerá com prazer estas palavras se meu texto convencê-lo de que no prazer elas foram escritas. E, acredite, não me dará satisfação alguma saber o que é bebê reborn. Como também não quero saber quem é Virgínia. Ou as Kardashian.

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“Ah, mas como é que você não sabe se você está citando?” E que escolha tenho eu, parabólico leitor? Esses termos circulam em profusão por quase todos os ambientes por onde ando e é simplesmente impossível evitá-los. Mas, se ainda nos resta alguma liberdade, quero exercer meu sagrado direito a não me meter a saber de tudo simplesmente porque eu “deveria”. Talvez o direito à ignorância seja o que nos ajudará – aos jornalistas e cronistas – a nos mantermos distintos do ChatGPT. Falando em Kardashian, lembro-me de uma passagem do livro “Invente alguma coisa”, de Chuck Palahniuk, livro de papel com letras impressas que estou lendo por esses dias. “Somos basicamente animais grandes que evoluíram para conseguir abrir conchas e comer ostras cruas. Mas agora querem que a gente saiba o que se passa com as trezentas irmãs Kardashian e os oitocentos irmãos Baldwin”, diz lá um personagem.

Nossos instrumentos de comunicação nos inundam de uma quantidade de informações sem precedentes na história da humanidade, a uma velocidade que desafia nossa capacidade de absorção. É preciso dar um jeito de filtrá-las. Tem muita gente estudando o que isso está fazendo com nossos cérebros. Refiro-me a gente séria e capacitada, em universidades e institutos de pesquisa. E um dos pontos de convergência desses estudos é que um dos efeitos do estresse informacional é o aniquilamento da capacidade de concentração, que, em última análise, é a mais enriquecedora forma de pensar. Em bom português, estamos assistindo à marcha firme e orgulhosa da humanidade rumo ao emburrecimento total.
Mas o que isso tem a ver com bebê reborn, não é mesmo?

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