Um Bastião sobe a Rua Antônio Passarela.
(o mesmo vento que me empurrava na Avenida Rio Branco nos crepúsculos solitários voltando das cabines da Telemig após telefonar para a Mãe faz curva na Independência?)
Leva sob o braço direito duas almofadas: uma já foi futon de madame de ioga, outro, amostra de colchão Castor.
Pelo braço esquerdo conduz uma Bastiana, olhos vendados para não antever surpresa. Tilintam taças nos apartamentos envidraçados, o rugir de carros atrasados ecoando nas ruas vazias. Um motoboy que não verá o novo ano. No cemitério, flores frescas morrem lentamente na noite abafada.
Um Bastião dispõe os assentos e acomoda a amásia. Retira-lhe suavemente o paninho que lhe tapava as vistas. O rosto dela se ilumina ao tremeluzir de velas.
Uma vermelha.
Outra preta.
Seus olhos riem. E fazem força para segurar a enxurrada salmoura que vem lá de dentro.
A ceia é farta. Uma garrafa de sidra. Corote hoje não. Frutas vermelhas e amarelas e verdes, ah, arco-íris nutritivo. Muita maçã para pouco dente, mas quem liga? Até chocolate Lollo e bala toffee, o luxo! E ao centro, prato principal, dourado frango assado cercado de farofa. E um charuto para o bem depois.
Antes de degustarem o banquete finamente disposto na esquina da Passarela com a Mamoré, um Bastião e uma Bastiana fazem sua oração. É preciso agradecer ao Bom Menino, que em poucas horas virá mais uma vez ao mundo para salvar os homens deles mesmos.